A razão é evidente e trivial: o livre exercício da vontade produz exatamente o resultado previsto pelo verso do Eclesiástico: você se torna a alegria de seus inimigos. De seus concorrentes sociais, para usar o linguajar contemporâneo. A realidade prática da vida da maioria das pessoas é aquela descrita por Paolo: o freio do cavalo, a disciplina, o treinamento.
Uma ironia nunca vem sozinha, nem a melhor é a que se percebe primeiro. A realidade dificultosa de indivíduos cotidianamente ensinados a resistir às pressões da mídia e das mitologias sociais, endossadas da boca para fora, é superada pela aparência singular do tratamento social dos que sucubem - os dos que acreditaram nos valores sociais dominantes.
Compradores anônimos, endividados anônimos, pródigos anônimos, viciados de todos os tipos, problemas que são para parentes, amigos e redes sociais, precisam ser submetidos a ritualizados tratamentos de controle da vontade. Sem qualquer apelo a um comando religioso superior - a um conselho oferecido por Deus - precisam realizar uma complexa operação intelectual para se curar. Se é que se curam.
(Imagem: Marcus Curtius lança-se ao abismo. Leonaert Bramer, 1657)
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