sábado, 27 de fevereiro de 2010

dalla sapiente scenografia devota di Paolo Segneri

Ao fim de fevereiro e completados dois meses de resenhas, o breve artigo de Marucci ilumina o aspecto mais fascinante da personalidade intelectual de Segneri. Sua fina capacidade de observação psicológica não pode ser atribuída apenas às sutilezas de um orador sacro. Segneri devotou boa parte de sua vida pastoral às missões evangélicas junto aos camponeses do interior da Itália, com espantoso sucesso. Percorria as pequenas cidades do campo levando uma mensagem de arrependimento e correção, obtendo resultados consistentes e tornando-se adorado pelas massas rurais.

O exame dos registros das missões, feitos pelo punho de Segneri, mostra ainda como ele corrigia e adaptava suas técnicas e sermões de acordo com a experiência colhida no campo de trabalho. A técnica jesuíta do teatro da fé, um espetáculo catártico baseado no sucesso do teatro profano, era, assim, sofisticada ao ponto de incluir a participação do público, que subia ao altar para receber o aplauso geral pela confissão, pela correção de seus caminhos ou pela entrega ao fogo dos intrumentos do pecado: dados, cartas de baralho, etc.

O sucesso de Segneri como agente a ator do teatro da fé, que o levava, inclusive, a violar a proibição de flagelação em público, conduz naturalmente à indagação sobre o declínio da prática ao longo do século XVIII. É visível um paralelismo com o declínio da música religiosa. Afinal, o que havia de errado com o espetáculo da fë?

Valerio Marucci, "Paolo Segneri e le missioni rurali". in Paolo Segneri: un classico della tradizione cristiana. Atti del Convegno Internazionale di Studi su Paolo Segneri nel 300° anniversario della morte (1694-1994). Nettuno, 9 de dezembro de 1994, 18-21 de maio de 1995.


Patientia autem opus perfectum habet

Considera, per qual cagione si dice, che l'essere tribolato ti apporterà tutti quei beni, sì grandi, di cui nella meditazione precedente si è raggionato: perchè ti dà la pazienza. Estuda, especula e enamora-te da paciência. Ela é a resignação de Cristo em sua cruz. É preciso praticá-la, pois não basta a ciência, mas a experiência. Assim com o Filho de Deus, teve mais piedade de nós porque suportou quando vestido com a carna humana. A virtude não se adquire da forma mais fácil: se foges das ocasiões de sofrer e buscas o aplauso, como se tornarás um soldado de Cristo? Alguma vez encontraste alguém que tenha se tornado bravo soldado por estudar livros? É preciso provar-se no campo de batalha. A Paciência basta, em lugar de toda a virtude, mas, sem ela, não terás virtude de valor. E così torna di nuovo ad imprimerti nella mente, quanto sia bene spesa per acquitarla ogni gran fatica, e frattanto domandala a quel Signore, il qual è ogni nostro bene.

(febbrajo xxixx, Probatio fidei vostre Patientiam operatur..., Tiago 1, 2)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

existimate fratres mei

Considera la forma con cui procedono inumerabili Cristiani, e stupisci. Dicono di tener per indubitato, che su la Terra la vera beatitudine è patir molto. E, assim, quem faz um voto de prata se perdeu a vista? Quem faz uma peregrinação a Loreto se recebeu uma sentença contrária? Quem dedica uma Capela se perdeu um cargo na corte? Quem dota um claustro se perdeu uma cátedra? A fé corre bem como moeda de peso, mas é escassa, é scema. Deixa que Cristo, que São Pedro, que São Paulo, que a razão te governe e deixa o Mundo falar o que quiser. Segue o honesto, o útil, o deleitável. Aprende a sofrer e lembra que os Santos não pediam que se aliviasse uma Cruz, mais que se lhes enviasse outra. As tribulações são dadas, as seduções, permitidas, mas todas são provas de Deus. Paciência, mas isto se explica na meditação seguinte. Sicchè quando l'anno sia bisestile, tu la serbi al segunte dí, e quando ordinário, possi, se ti piace, congiungerla ao dí presente.

(febbrajo xxviii, Omne gaudium, Tiago 1, 2)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Qui volc ausir diverses comtes

Arrependimento não é coisa simples, como notou Segneri:

"Poucos daqueles forçados a prestar contas por suas ações sob Hitler mostraram remorso ou contrição, menos ainda, culpa. Com raras exceções, mostraram-se incapazes, quando chamados a dar conta, de reconhecer sua própria contribuição para o deslizar sem remorso para a barbárie durante a era Nazi. Ao lado das inevitáveis mentiras, distorções e desculpas, frequentemente se percebia um bloqueio em reconhecer a responsabilidade por suas ações. Equivalia à auto-ilusão que espelhava o colapso total de seu sistema de valores e a demolição da imagem idealizada de Hitler, a que se agarraram por tantos anos, que, na verdade, justificava suas motivações. Estiveram contentes por anos vendo seu poder, carreiras, ambições, aspirações depender apenas de Hitler. Agora, em uma lógica perversa, seu próprio sofrimento poderia ser atribuído apenas à criminalidade ou loucura de Hitler. (Ian Kershaw, Hitler. Nemesis (1936-1945), pág 838. Penguin, 2000).

Há uma técnica de sete passos para o arrependimento: http://www.thercg.org/pillar/0504pp-tssor.html

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Be.m conoc per homen estrang

Poucas notas de Segneri revelam tanta capacidade de observação moral como esta referente ao 27 de fevereiro. Ele descreve com sensível eficácia a auto persuasão do pecado, cuja reversão torna-se difícil com a mera passagem do tempo ou mesmo na hora da morte. Alguns números impressionantes são oferecidos por um artigo recente de Stephen K. Rice; Danielle Dirks e Julie J. Exline, publicado no Justice Quarterly, 26(2), págs 295-326. Of Guilt, Defiance, and Repentance: Evidence from Texas Death Chamber examina as manifestações dos prisioneiros às vésperas de sua execução no período entre 1982 e 2005. Nada mais próximo da situação "na hora de nossa morte", uma circunstância realçada pelo fato de que as leis do estado do Texas facultam a presença das famílias das vítimas no momento da execução.

Para começar, 21% dos condenados não se manifestaram na hora derradeira. Preferiram calar "na hora de nossa morte". No universo de 269 prisioneiros executados que se manifestaram, apenas 32% das manifestações envolvem arrependimento. O reconhecimento de culpa é maior (36%). Em cerca de 20% das manifestações há protestos de inocência; em 10% dos casos são ouvidos protestos contra a ilegitimidade da pena capital e em 10% há a afirmação de ser vítima de uma injustiça.

Em favor do gênero humano deve ser dito que a única associação estatística com a manifestação de arrependimento é, de fato, a presença dos parentes das vítimas no momento da execução. Educação, raça, estado mental, idade - nenhum fator demográfico ou biográfico dispõe favoravelmente à manifestação de arrependimento.

Esses estudos estão sendo feitos nos Estados Unidos também para a avaliar a existência ou não da "síndrome do corredor da morte". Psiquiatras alegam, desde os anos 1980, que as condíções de isolamento e estresse, vigentes enquanto o prisioneiro espera longamente por sua execução (um quarto dos condenados morre de causas naturais antes da execução), são causas de doença mental. O prisioneiro, quando desiste de apelar, não estaria no comando de seu julgamento e seria também questionável a presença das vítimas em sua execução.

Essa, contudo, é uma outra discussão, ainda não encerrada, entre duas concepções de justiça - retributiva ou restauradora. Detalhes podem ser conferidos no volume 4, da edição de 2000, do erudito períódico Homicide Studies, publicado pelo Grupo de Pesquisas de Homicídios da Associação Americana de Criminologia.


domingo, 14 de fevereiro de 2010

et nubes suscepit eum ab oculis eorum

Considera, che significa in questo luogo dar gloria da Dio. Quer dizer reconhecer a própria fraqueza, detestá-la, deplorá-la e finalmente fazer a devida penitência. Assim rendemos a Deus a glória que lhe retiramos. O pensamento deve arrepender-se; a palavra confessar; a obra, cumprir a penitência. Deus quer receber como dom aquilo que é devido. E Deus quer súbito. Quanto mais demoras a confessar-te, quanto mais te vires prosperar, menos temerás o pecado; passarás da fornicação ao estupro; do rancor à vilania; da rivalidade à vendetta. Não mais desprezarás o pecado, mas nele te hás de comprazer. Se não consegues em vida, faz ante a morte, mas verás que montes há que superar. Se quiseres fazer uma feliz passagem e devolver a cada um o seu, como farás sem prejudicar tua família? Se quiseres perdoar, quanto ódio terás de superar? Se quiseres a Misericórdia divina, como hás de tê-la desprezado? Quantos assassinos não se escondem nessas montanhas? Prega il Signore, che ti conceda quanto prima di piangere ogni tua colpa, e procura d'andare in tempo apianando quelle Montagne, che alla morte havrai da passare.

(febbrajo xxvii, Date Domino Deo vestro gloriam..., Jeremias 13.16)