domingo, 14 de junho de 2009

non sui assaz lassa cativa?

O primeiro Congresso Internacional de Audição de Vozes está marcado para a cidade de Maastricht, no dias 17 e 18 de setembro de 2009. O trabalho de advocacy em favor da comunidade, informa o site (http://www.intervoiceonline.org/), começou há vinte anos, em 1987, com a fundação, na Holanda, da primeira associação de Audição de Vozes, um grupo de auto ajuda. Essa experiência hoje influencia as pessoas que vivem essa realidade, suas famílias e os pesquisadores da área.

O site informa que 'nos último cem anos' o tratamento baseado no conceito aceito da doença não ajudou suas vítimas a viver em paz uma existência funcional. As investigações recentes mostram que as vozes expressam emoções em conflito, como resultado de traumas. As experiências psicóticas estão relacionadas pelas experiências de vida de quem ouve vozes. Essa constatação experimental tem ajudado a muitas pessoas afetadas em seu esforço de auto recuperação. O programa do Congresso, contudo, não é radicalmente médico ou secular: haverá palestras sobre o uso espiritualista de espíritos curadores, sobre xamanismo, sobre "espiritualidade, trauma, psicose" e sobre Emanuel Swedenborg.

A falta de interesse em uma compreensão religiosa do fenômeno não agrega maior peso aos argumentos científicos, nem diminui os paradoxos associados a percepções não controladas pela mente ou não assimiláveis ao curso habitual da experiência sensorial.

A explicação bioquímica pode ser eficaz em revelar a causa fisiológica da audição de vozes, mas dificilmente daria conta da específica diversidade das vozes ouvidas e do seu conteúdo. Por que "este" delírio e não qualquer "outro"? O problema de ouvir vozes é tanto ouvi-las, como ouvir o que dizem. Uma explicação que invertesse a relação de causalidade seria perfeitamente plausível: a necessidade de produzir uma mensagem levaria a um desequilíbrio químico e, por esse meio, à audição de vozes.

A explicação psicológica também apenas desloca o problema causal usando a expressão "trauma". Por que alguns traumas levam a ouvir vozes e outros não? Há uma relação fixa e substantiva entre um trauma e a mensagem das vozes? Por que algumas pessoas sofrem traumas diante de situações vividas normalmente por outras? Na verdade, não se trata de uma explicação, mas uma descrição.

Na prática, qualquer explicação ou terapia terá de se basear em uma postura que pode ser chamada de objetividade estrita: a experiência é definida por um ponto de vista abstrato, suprapessoal, que distingue arbitrariamente os fatos reais dos irreais com base em critérios pragmáticos e de consistência interna. Qualquer evento mental que não cumpra os requisitos impostos por estes critérios, é uma aberração química do cérebro e não quer dizer coisa alguma, senão em sentido derivado. Ou seja, é sintoma. Deve ser quimicamente suprimido.

Nesse ponto, basta inserir um simples consideração para que os paradoxos retornem sob outra forma: a decisão de ingerir um medicamento seria, em tese, pessoal. Quem toma o remédio, toma uma decisão sobre a natureza do evento mental que o afeta. O fato de um terceiro ser capaz de tomar essa decisão por outra pessoa em nada muda o caráter do problema gnosiológico. Acreditar em um remédio é acreditar em uma doença.

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