quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Deseversita eu o vedeam

Notável a definição estabelecida por Segneri para a santidade. Não se trata apenas, sugere ele, de um assunto eclesiástico; também não se prende ao elenco de fatos espantosos ou miraculosos habitualmente descritos pelas vidas dos santos. Sua definição é existencial: a vida do santo é uma espera. Uma forma especial de espera.

Afinal, nossa vida, quase sempre, é definida por esperas. Nos tempos que vão, a vida nunca foi tão demarcada por esperas: pela passagem de cada ano de estudo, pelo progresso na carreira, pelas fases da vida familiar, nascimento, vida e morte, pelo contra-cheque ou pelo próximo prato de comida. A vida é feita de tempo, mas de um tempo que não controlamos, que não podemos interromper, acelerar, pular fases. É preciso esperar.

A vida de cada um depende daquilo que se espera: sucesso, triunfo, comida, prazer. E como se espera: com paciência, com angústia, com terror ou tremor. É uma espera particular que define o santo: a espera pelo melhor, pelo Paraíso depois do Juízo. O santo não tem pressa, nem se ocupa das coisas esperadas nesse mundo, pratos grosseiros, de acordo com Segneri. Querem apenas os manjares mais finos e, por isso, esperam, não buscam.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

de miei affani testimoni ne sia Dio

O caráter militante de Segneri continua sendo registrado pelos capítulos finais do Raguagglio. No curso de suas Missões pouca atenção devota aos grandes locais, fazendo questão, ao contrário, de receber a todos e conversar com os mais humildes. Para um prelado com o seu prestígio em Roma, a atitude não deixava de chamar atenção.

Seu silêncio sobre suas desventuras e desgostos pessoais merece também uma curiosa e humana explicação. Quando alguém me confessa algo, dizia, uma angústia, um temor, uma preocupação, reservadamente, dou grande valor a esta atitude. Se, contudo, após falar comigo, esta pessoa comunica a mesma coisa a vários outros, noto que minha amizade não era tão preciosa. O mesma valia para Deus. Segeneri preferia comunicar apenas a Ele suas tribulações e assim manter uma "amizade especial".

Raguagglio, capítulos LIII a LVII.

sábado, 27 de agosto de 2011

qui fidem suam nunquam mutant

Considera, che cosa alla fin sia stata la vita di tutti i Santi sù questa terra: una aspettazione continua. Que fizeram, aqueles anteriores a Cristo, senão esperar; os que vieram depois, que fazem senão aguardar seu retorno. Primeiro veio como redentor, mais tarde virá como Consumador. O que há de ser tua vida: esperar. Esperar por um patrão que retorna de uma festa pode ser molesto, pode demorar, não se deve deixar sua casa, não se deve dormir. Não há o que fazer, contudo, pois os servos se acomodam ao senhor; não o senhor, aos servos. Considera, pois, porque os Santos são chamados Santos: nada tinham a ver com o Mundo, sempre aspiravam ao Ceú. Viver na Terra como peregrino, destacados do Mundo, homens sagrados, espirituais. Ainda que trates com os homens, ainda que te portes como eles, sê peregrino. E não tenhas pressa, não faças como os aqueles convidados que, sem paciência para esperar pelos Grandes, comem os pratos mais grosseiros e quando chegam os manjares mais suaves já não têm fome. Faz melhor aquele que jejua. Tua herança é o Paraíso: espera que esteja maduro. Agora é tempo de viver de Fé, consolar-se com a Fé, ajudar-se com a Fé. Assim, não perderás as coisas prometidas. Comunque siasi: chi è Pellegrino convien che più d'una volta si metta a rischio di morir sù le strade, per arrivare a menare la vita in Patria.

(marzo xx, Filii Sanctorum sumus... Tobias 2.18)