O caráter espiritual da concentração da mente nas mínimas ações que cada um pratica em sua vida cotidiana ou em seu ofício cotidiano é hoje uma figura retórica comum. Ela se espalha pelas literaturas de auto-ajuda modernas, mas avança também sobre as descrições populares das religiões orientais. Em Segneri, naturalmente, o sentido é bem mais preciso: esta concentração é necessária para realizar a intenção pura e para invocar corretamente a ajuda divina. De forma sutil, ele insinua que cada gesto pode se transformar em um ritual.
O efeito terapêutico e salvador desta concentração pode revelar-se em ocasiões surpreendentes. Em sua obra pungente sobre o Gulag soviético, Anne Applebaum descreve como a capacidade pessoal de isolar-se, por meio de tarefas comuns, do horror do trabalho forçado e da injustiça contribuía para a sobrevivência de muitos prisioneiros.
Escrever poesia, fabricar colheres ou agulhas para os que precisavam, meramente dedicar-se a ouvir um amigo, lavar ritualmente as próprias roupas, manter a rotina de tomar banho foram recursos empregados para, de alguma maneira, preservar a dignidade interior (Gulag. A History, 2003, págs 346-347). Mesmo uma celebração mínima do ritual da Páscoa Ortodoxa atraía crentes e ateus.
Na mera atenção ao que fazemos, argumenta Segneri, está a salvação.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
sábado, 18 de fevereiro de 2012
Omnibus operis tuis
Considera, che qui alla fine si hà di ridurre tutta la tua
perfezione: a far le azioni, che sono proprio di quella comunità, di quell
carico, di quell grado, in cui Dio ti hà posto, ma a farle eccelentemente. Imaginas que ações grandiosas te
darão a santidade? Quem te disse? A tua soberba? Deus pede as obras de teu
ofício. A santidade não consiste em fazer obras excelentes, mas em fazê-las de
forma excelente. Ela não se busca nas obras, mas no operante.
Quem faz mais
proezas que as damas chamadas fortes? Como Débora, como Judite. Se bem
ponderas, todas as suas bravezas terminaram em bem fiar, em prover-se de lã e
de linho, em não deixar que, de noite, a lâmpada se apague. Cumpre fazer as obras
de modo interno, perfeito, com intenção reta, endereçando tudo a Deus, ao maior
gosto de Deus, à maior glória de Deus. Não faça como os navegantes que não
cuidam da viagem de seu barco, que apenas cantam e gastam seu tempo. Não sabes
quão benévolo é o Senhor? Faz o contrário dos homens: paga pela vontade como
paga pela obra.
E pede
sempre ajuda a Deus. Ele não se molesta com este freqüente socorro. Não sabes
que ele é um amante e vai perdidamente por ti? Isto é próprio de um grande
amante: proclamar ter parte em toda a obra do amado, meter-se em tudo,
ingerir-se em tudo, tomar a si o assunto do amado. Se queres dar gosto a Ele,
que tanto te ama, chama-o em toda a obra que fazes. E cosi quanto più almeno ti
sai possibile: In operibuis tuis pracellens esto: facendole nell’esterno com
esattezza, nell’interno com eminenza di carità, superiore a quella, che si usa
comumente, già che questo appunto à praecellere, è spiccare sobra la turba.
Se poi il divoto Lettore si dolesse
Os capítulos finais do Ragguaglio contêm algumas narrativas adicionais das penitências a que Segneri se submetia, entre elas ser açoitado enquanto amarrado a uma coluna, como Jesus, e queimado com a cera quente de velas. Era difícil, por vezes, arranjar quem o ajudasse em tais extremos.
O autor se pergunta, ao final, porque uma pessoa com tais méritos intelectuais e espirituais permaneceu praticamente desconhecida em seu tempo. É porque sempre os manteve em segredo enquanto viveu.
Ragguaglio, capítulos LXVI a LXVIII (fine).
O autor se pergunta, ao final, porque uma pessoa com tais méritos intelectuais e espirituais permaneceu praticamente desconhecida em seu tempo. É porque sempre os manteve em segredo enquanto viveu.
Ragguaglio, capítulos LXVI a LXVIII (fine).
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