A preocupação contemporânea com o fenômeno teve sua origem, naturalmente, na epidemia de HIV/AIDS. Sem cura ou tratamento eficaz por muitos anos, a transmissão da enfermidade não ocorria, geralmente, por atos e eventos independentes da vontade da pessoa contaminada. Como os valores modernos não podem aceitar, por conta de seu iluminismo otimista, que a prática sexual seja induzida diretamente por fatores que estão além da vontade individual, restava admitir que a consciência humana, mesmo posta diante de um risco evidente, preferia andar à beira da precipício, tal como o "peregrino" de Segneri.
Hoje, contudo, esforços crescentes de engenharia social levaram o conceito de comportamento de risco muito além do campo sexual. Práticas alimentares de crianças, hábitos sexuais de adolescentes, vícios adultos, reações ao estresse ou mesmo o suicídio de militares são estudados sob a perspectiva do comportamento de risco.
Uma rápida análise dessa literatura psicológica mostra, contudo, um beco sem saída. Como os seres humanos modernos, por definição, são sempre bons e racionais, a única explicação para um comportamento de risco precisa ser externa. Sendo externa, ela limita o livre arbítrio do sujeito e, por decorrência, a própria idéia de um comportamento que deliberadamente assume riscos.
Segneri não sofre com esses dilemas. O problema é a fraqueza humana, incapaz de caminhar mesmo em uma estrada plana.
"Te lleva tu alvedrio a unión con Dios o con el bruto impio"
Juan de Rojas. Representaciones de la Verdad Vestida, Mysticas, Morales y Alegoricas sobre las Siete Moradas de Santa Teresa de Jesus, Gloria del Carmelo, y Maestra de las Primitiva Observancia. Madrid, 1679. Terceras Moradas.