domingo, 24 de outubro de 2010

Domnii mei se pot tóte

A sutileza da pregação de Segneri opera, nesse meditação, sobre um duplo registro: um, teológico; outro, histórico. A advertência pastoral é familiar: Deus não precisa de ninguém; ele oferece sua graça aos que emendam seus caminhos. Cuidar da salvação é uma decisão pessoal, com repercussões sobre a vida de cada um. Deus não é prejudicada por sua descrença. Na sura 10, Muhammad escreve: "Se seu Senhor quisesse, todos os homens seriam crentes" (vv. 99). A advertência histórica é mais interessante. Começa pela facilidade em converter fiéis para substituir os falsos crentes, mas aponta para o "risco" representado pelas áreas de expansão do catolicismo na América do Sul. O crente europeu não vê o seu privilégio quando considera as imensas populações do Novo Mundo que jamais receberam, até aquele momento, a Graça do Senhor. E não considera também que sua Mensagem está chegando ao Peru, ao Paraguai e ao Chile.

Trezentos anos depois de Segneri, sua profecia, ao menos no domínio do catolicismo, é tema corrente das discussões sobre religião. Desde a ascensão de Bento XVI, o declínio do catolicismo na Europa e seu deslocamento para as Américas é objeto de atenção. Na verdade, a própria eleição de Ratzinger, um alemão do sul católico, pode ser vista como uma resposta a esse problema. Afinal, em meados da década de 2000, o sudeste europeu, que inclui, as nações ibéricas e a Itália possui ainda 92% de católicos, mas, no contexto mundial, essa população representa apenas 12% dos fiéis em termos mundiais. Nos países da América do Sul, os católicos representam 81% da população, mas são 28% do total. A Europa de Segneri representa hoje, em termos relativos, menos da metade da América do Sul aberta, no século XVI, aos missionários católicos.






"E se o Senhor quisesse, os que estão na Terra haveriam de crer - todos. Então, haverias tu de obrigá-los a crer?"

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Iustificati ergo ex fide

Considera, che ciò, che desnima molti dal perseverare nel bene, c'han cominciato, è figurarsi d'havere a viver ancora assai lungamente. E però ti c'hai da fare per rincorarti? Tutto il contrario. Pensa que hoje é o último dia da vida. Este é um aguilhão fortíssimo. O Senhor poderia vir como um ladrão, mas não o faz, te manda ajuda. A trombeta que convoca para o Julgamento é última; muitas soam antes: quando alguém cai de uma escada, é um trombeta; quando outro é morto pelo ferro, uma trombeta. Há que perseverar: perderias a Coroa por causa de alguns dias? É para teu Bem; não para o bem do Senhor. Não Lhe faltarão outros servos, se tu vieres a faltar. No mesmo dia em que um cai no pecado, o Senhor converte infiéis, como os Quarenta Mártires. Deus não precisa de ti. A Coroa não será conseguida à força. Ele te preferiu. Quante Anime hà abbandonate là nell'America, a cui non hà fatta una minima parte di quelle grazie c'hà fatte a te. Se però vedendo oramai la tua ingratitudine lasci a te, e le ne vada là nel Perù, nel Paraquari, nel Chile a ritrovarsi chi erediti la Corona a te prima offerta, ti potrai tu per ventura di lui dolere?

(marzo ix, Ecce venio citò, tene quod habes, ut nemo. Apocalipse. 3. 11).

sábado, 16 de outubro de 2010

Santa Francesca Romana

A referência de Segneri é precisa. De Santa Francesca Romana (1384-1440) ou Francesca Bussa de’ Buxi de’Leoni poderia ser dito que teve uma vida quase comum, tocada apenas pela paixão da caridade e pelo infortúnio comum de seu tempo. De família nobre e rica, teve boa instrução e casou aos treze anos de idade com Lorenzo de’ Ponziani, também rico e nobre. Frustrada em sua vocação religiosa, Francesca pensou em deixar-se morrer de fome, mas Santo Aleixo a visitou em sonhos, avisando que o Senhor desejava que vivesse. Aceitou os dons da vida, o marido, os filhos, uma palácio, mas dedicou-se desde cedo à caridade. Certa vez, recebeu a guarda dos armazéns do sócio de seu marido e deu tudo aos pobres. Antes que ele reclamasse, os armazéns foram miraculosamente reabastecidos.Não ligava para festas ou convenções sociais, vendeu suas roupas e suas jóias. É verdade que lutou com o demônio, fez uma viagem mística ao Inferno e ao Purgatório e teve seus êxtases, mas estes foram comunicados a seu confessor. Apenas em 1870, essas confissões foram publicadas pela Igreja.

Em 1409, as provações começaram. Seu marido, comandante das tropas papais foi ferido em batalha e ficou paralítico. Em 1410, sua casa foi saqueada por inimigos políticos do Papa, seu marido teve de fugir e um de seus filhos foi levado como refém por Ladislau, rei de Nápoles. Durante uma epidemia de peste, abriu seu palácio aos doentes, dois filhos contraíram a doença e faleceram, Inês e Evangelista. A vida, porém, seguiu. Depois da guerra, dos saques e da peste, voltou a viver com seu marido doente e seu único filho, sempre trabalhando pelos pobres. A partir desse tempo, dizia ser acompanhada todo o tempo por um Anjo, que lhe apareceu em sonhos, ao lado de seu filho. Em 1425, com um grupo de amigas, funda uma associação de caridade, as Oblatas Olivetanas de Maria, depois Oblatas de Santa Francesca Romana. Com a morte do marido em 1436, após quarenta anos de casamento, passou formalmente à vida religiosa na congregação que fundara, ensinando suas revelações às irmãs, promovendo a caridade e pregando em favor do fim do Grande Cisma. Morreu, porém, em sua casa, o Palácio Ponziani, onde fora assistir seu filho doente. Seu filho recuperou-se; ela faleceu no dia 9 de março, o mesmo dia em que nasceu o escritor dessa nota. Foi supultada na Igreja que leva seu nome, praticamente onde esteve o Templo de Vênus e de Roma, e declarada santa em 29 de maio de 1608. É invocada como protetora em tempos de peste e, desde 1951, é a a protetora dos motoristas. O Mal nunca lhe desviou do Bem.

(Artigo de Antônio Borrelli: http://www.santiebeati.it/dettaglio/26350)




Giovanni Antonio Galli, dito Spadarino (1585-1652). Santa Francesca Romana com o Anjo.