terça-feira, 22 de maio de 2012

Acopere totul, crede totul, nădăjduieşte totul, sufere totul

A bela figura retórica empregada por Segneri para descrever a paz alcançada pelos justos, sustentada por negativas, é uma referência clara à celebre passagem da primeira Epístola aos Coríntios (13, 4), quando Paulo define a natureza do amor (ágape):


"4.O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece,
5 não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6 não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."

Tal encômio do amor, contudo, não foi uma invenção do apóstolo: representa uma figura literária conhecida na cultura grega. Tem um igualmente célebre antecessor, exposto nas seções 203c e ss do diálogo platônico "O Banquete". Como é sabido, o amor (eros) é assim descrito:

"E por ser filho o Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a
condição em que ele ficou. Primeiramente ele é sempre pobre, e
longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas
é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro,
deitando-se ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque
tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão.
Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom,
e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer
maquinações, ávido de sabedoria e cheio ele recursos, a
filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem
imortal é a sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele
germina e vive, quando enriquece; ora morre e de novo
ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre
lhe escapa, de modo que  nem empobrece o Amor nem
enriquece, assim como também está no meio da sabedoria e da
ignorância."

terça-feira, 1 de maio de 2012

Sedebit populis meus

Considera, che questo beato popolo, del quale quì si ragiona, non può già essere un popolo, qual è quello degl'imperfetti, mas uno assai spirituale, assai santo, populus peculiaris, perche già si presuppone, che non habbia più di bisogno di stare tutto dì combattendo affanosamente, ma che già goda riposo, mentre incontanente si dice, che sederà: Sedebitis populus meus. Quem são os que alcançam esta sorte? Poucos são - os que são senhores do seu querer. Tu entendes a rara felicidade de quem combateu por longo tempo e alcança o domínio de si mesmo? A paz não é outra coisa que a tranquilidade em ordem: não inveja, não presume, não litiga, não persegue, não ambiciona e sabe viver em paz mesmo com os que são amantes da guerra. É ordenado com Deus, porque em tudo se submete a Ele.

Ó tu, beato, se soubesses por uma vez deixar-te invadir por tão digna paz. Não vês tu como é bela?

O Justo, após haver repousado na paz, na morte descansa no Tabernáculo da Confiança. Nos pagos do Senhor. Como a Pomba, que não sai a combater o Falcão no ar aberto, mas retira-se aos bosques escuros. Saciado na memória, saciado na vontade, plena de Deus, saciado no exercício da virtude, saciado no bem, saciado pela total saciedade que possa haver em todos os seus sentidos. Saciado no gosto do celeste maná. E finalmente saciado pela fonte da saciedade que é Deus, pois Ele não tem necessidade de nada. Procura, pois, ser parte desse Povo. Se vuoi requie dopo la morte, convien che alla requie preceda la fatica, si che ti spendi per Dio, ti strugghi per Dio, e ti curi poco di umani sollevamenti infino a tanto, che dicat tibi Spiritus, non il Corpo, ut requiescas à laboribus tuis. Apoc.14.13.

(marzo xxviii, Sedebit populus meus.... Is. 32.18)