domingo, 25 de setembro de 2011

Asculta-me, sfântu preotu; asculta-me parinte

A posição alcançada pelo consumo de bens materiais na sua escala de valores talvez ofereça o contraste mais dramático entre a modernidade e os sistemas éticos e religiosos do passado. Desde 1953, o consumo nunca representou menos do que 60% da economia dos Estados Unidos da América e na década atual aproxima-se do patamar de 70%. Tão ubíqua é a presença do consumo na vida social que maiores gastos com publicidade nem são necessários. Ainda nos Estados Unidos, eles têm se mantido estáveis, como propoção do produtor interno bruto, desde o início do século XX (http://www.galbithink.org/ad-spending.htm). É desnecessário notar aqui os aspectos grotescos de uma sociedade que funciona sob tal imperativo. A cada ano, por exemplo, milhões de animais domésticos são abandonados e sacrificados, uma vez que deixam de cumprir suas funções emocionais e estéticas.

Por sua vez, a idéia (e o sentimento) de um balanço mais equilibrado entre a busca de bens materiais e espirituais não decorre inexoravelmente de um marco confessional. Desde a década de 1990, vários movimentos de repulsa ao consumismo e ao estiolo de vida moderno vêm se organizando a partir do chamado Downshifting Manifesto. Parte do movimento Verde, seu objeto específico é reduzir a relação das pessoas com o consumismo de massa (http://downshiftingweek.com/sitebuildercontent/sitebuilderfiles/DownshiftingManifesto2008.doc).

Não se trata de um movimento contra a civilização industrial: "uma pessoal frugal não é uma pessoa pobre". O objetivo é utilizar as facilidades da civilização industrial para viver melhor, em busca de outros propósitos na vida (http://www.thedownshifter.co.uk/frugality.html). Reduzir os "afãs e ansiedade", como sugere Segneri. Descobrir o próprio bem exige estudo.



sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Indicabo tibi ó homo

Considera, che niuna cosa a questo Mondo è più facile, che confondere il bene vero col falso. Questo è l’inganno, che mena tanto di Universo in rovina. Por isso é precio diligência no estudo e no conhecimento deste bem, que é o indicado por Deus. Ele requer um exame contínuo de tuas ações, tuas palavras, os afetos ainda mais ocultos, pois sobre ti darão sentença desapaixonada. Quão fácil é adular-te a ti mesmo! Se te julgares com rigor, como Deus te impõe, não serás por Ele julgado. E usa de misericórdia quando examinares o próximo: crês tu que seja amar a misericórdia pesar sutilmente a necessidade de teu próximo para ver se estás realmente instado a lhe prestar socorro? Deus, por fim, pede tua companhia, ambulare cum Deo tuo, por todo o tempo: subir também ao Calvário e não apenas no monte Tabor. A solicitude na busca dos bens humanos foi vedada por Cristo: porque quanto a estes basta uma razoável diligência, não se demanda ansiedade e afãs. Ma intorno al procacciamento di um bem Divino, quest’ansietà, quest’affano sono affetti lodevoli, purche nom vadano scompagnati già mai della confidenza, e però ricordati c’hai da far cum Deo tuo, il qual, como tale, mai non mancherà di datti forze a seguirlo, a obedirlo, a onorarlo, a piacergli, a resistere contro tutti coloro, che te lo vogliono togliere, e a racquistarlo.


(marzo xxi... Indicabo tibi ó homo ... Miquéias 6, 8).

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Imi va resplati vécure trecute cu amar

O comentário do dia 20 de março é sobre a espera; o santo do dia, nos tempos de Segneri, é São Joaquim, esposo de Santa Ana, pai de Maria, avô de Jesus. Nas gerações, portanto, um símbolo dessa espera; da graça, ainda distante, que se aproxima.

Joaquim e Ana não são mencionados pelos Evangelhos. Os fatos da tradição vêm do chamado Proto Evangelho de Tiago, um texto atribuído ao ano 145, e espelham, em boa medida, a história de Abraão e Sara. Um casal sem filhos até a velhice, quando o Senhor lhes concede a graça do nascimento de Maria. Os episódios da vida de Joaquim e Ana, assim como da criação da Maria, tiveram lugar de destaque nas tradições e na arte cristãs até que a Contra-Reforma, no século XVI, limitou a citação dos textos considerados apócrifos. Após o século XVIII, mesmo a posição de São Joaquim no calendário dos santos foi alterada.

Seja como for, a influência desta tradição é tão expressiva que encontrou seu caminho mesmo no Corão, cuja terceira sura recebe o nome de Joaquim (Imran) e estabelece a base para o culto de Maria no Islã. O verso 37 cita diretamente um episódio do capítulo 8 do Proto Evangelho de Tiago, quando Maria, sozinha no Templo, recebe o alimento de um anjo:

“Seu Senhor a aceitou benevolentemente e a educou esmeradamente, confiando-a a Zacarias. Cada vez que Zacarias a visitava, no oratório, encontrava-a provida de alimentos, e lhe perguntava: Ó Maria, de onde te vem isso? Ela respondia: de Deus!, porque Deus agracia imensuravelmente quem Lhe apraz.” (3:37)