quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Viata e o lupta, o drama variata

Dentre as legendas de São Gregório, o Grande, nenhuma reflete melhor a delicadeza de seu espírito e o momento de afirmação pacífica do Cristianismo na cidade de Roma do que a salvação da alma do Imperador Trajano. Passando por seu grandioso forum, Gregório recordou o episódio em que, antes de partir para uma de suas guerras, Trajano atendeu uma viúva, que pedia justiça para seu filho morto: "Senhor, e se não voltares? Quem me fará justiça?". Então, orou pela salvação da alma de Trajano, em memória dos versos de Isaías (1, 16-17). De fato, um anjo informou a Gregório que a alma do Imperador havia sido libertada do inferno para seguir ao purgatório e, depois, aos céus, mas advertiu que graça dessa natureza não seria atendida novamente...O episódio, narrado na primeira biografia de Gregório, escrita no monastério de Whitby no ano de 713, teve uma longa trajetória literária e artística e tendo sido incluído na Divina Comédia (Purgatório, Canto X).



Igreja de São Gregório, o Grande.
Monte Célio, Roma.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

São Gregório Magno

São Gregório, o Grande (540 – 12/3/604), Papa e Doutor da Igreja, não pertence apenas à história dos santos. O personagem invocado de forma tão graciosa por Paolo Segneri conquistou um lugar importante na história da Itália e do Ocidente. Em determinado momento, ele entendeu que o Imperador, em Constantinopla, não teria mais o comando da Itália e das regiões da Europa sob a autoridade espiritual de Roma. Caberia ao Papa enfrentar os Lombardos e todas as outras forças temporais que desejassem impor sua vontade sobre a antiga cidade e à sua santa Sé. Não estava escrito, contudo, que assim seria.

Até os 30 anos de idade, herdeiro de uma família nobre de Roma, com posses na península e na Sicília, andava pela cidade na função, vagamente honorífica, de prefeito, com as suntuosas vestes do cargo. Subitamente, uma crise pessoal levou-o, como outras pessoas de sua classe, à vocação monacal. Não eram aqueles anos tranqüilos e Gregório recolheu-se, em 574, ao mosteiro de Santo André, construído sobre a casa de sua família no monte Célio, em Roma.

O mundo, contudo, não podia dispor de Gregório. Em 578, o Papa Pelágio II o torna diácono em Roma e no ano seguinte envia-o como parte da embaixada ao Imperador Tiberius, em Constantinopla, em busca de ajuda para enfrentar os Lombardos. De pouco adiantou a embaixada, mas Gregório enfrentou uma polêmica teológica que já mostrava o afastamento entre o sentimento religioso de latinos e gregos e entendeu que não era possível esperar muito da corte imperial. De volta a Roma em 585, recolhe-se novamente. É feito abade de seu convento, dedica-se à sua obra religiosa e promove missões de evangelização. Os tempos são difíceis, contudo, uma série de desastres naturais afeta a cidade de Roma e a Itália, culminando com a morte do Papa Pelágio II em 590. Gregório não consegue evitar sua própria eleição.

Seus quatorze anos de pontificado representam um marco em várias dimensões diferentes. Sua ascensão trazia um membro da elite romana para o comando do Papado e Gregório decide atender de forma consistente as demandas espirituais e materiais da população. Dá maior organização ao culto, à missa e, possivelmente, à sua música, e promove uma ampla reforma na administração do patrimônio da Igreja. Deu, inclusive, o passo decisivo ao substituir os administradores laicos por religiosos, o que diminuiu consideravelmente o risco de apropriação familiar dos bens eclesiásticos. Também promoveu a disciplina interna da Igreja, em matéria de comportamento e a primazia de Roma na relação com os demais bispados, inclusive o de Constantinopla. Em 592, descrente da ajuda imperial, organiza a defesa militar das cidades sob sua autoridade, firma uma trégua com o senhor lombardo de Spoletto e, no ano seguinte, com o próprio Agilulf, o rei dos Lombardos na Itália, evitando uma nova tomada de Roma.

Faleceu em 12 de março de 604, atormentado pela doença e pelas trágicas turbulências de seu tempo. Sepultado na Igreja de São Pedro, descansa, desde 1605, na capela de Clemente V. Um personagem de tal dimensão sempre foi cercado por dezenas de lendas e milagres, sendo habitualmente representado com toda a glória das vestes pontificais. Seu emblema é a pomba que, segundo relatos, surgia e com ele se comunicava quando escrevia suas obras. A melhor definição de sua dimensão talvez seja aquela reportada pelo epitáfio anotado pelo venerável Beda, que chamava Gregório de “cônsul de Deus”, pondo a magna autoridade da república romana na cadeira de São Pedro.


São Gregório, o Grande, (Carlo Saraceni, c.1610)
Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Fa ca în tot-d'auna pe a virtutei cale

A meditação do dia 12 de março oferece uma pequena janela de onde se contempla o sutil pregador Paolo Segneri. Ele está bem a par das contradições implícitas quando se busca, ao mesmo tempo, a atenção de Deus e atenção dos homens. Um ritual muito espalhafatoso ou uma missa popular, planejadas para atrair o fiel, são realmente o culto devido a Deus? Depois de tanto trabalho e tantas concessões, será mesmo seguro esse amor dos homens? Segneri crê que não e oferece sua receita: o poder do exemplo. Com suas sete condições sugere ser possível agradar a Deus e, ao mesmo tempo, apontar o caminho da salvação aos homens. Nem assim, contudo, alguém está a salvo da maledicência humana. O mero exercício da mais modesta virtude incomoda a muitos e provoca o ressentimento de tantos. Assim foi com São Gregório, sentado no trono de São Pedro, que, como o Sol, aborreceu a muitas aves noturnas.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Christi servus non essem

Considera quanto sia difficultoso, di potere insieme piacere a gli huomini e a Cristo, mentre nemeno ciò si promise l'Apostolo delle genti. É necessário superar contradições e contrastes para honrar a Deus e, assim, como se pode agradar aos homens? Três péssimas condições tem o amor dos homens: é difícil de conseguir, fácil de perder e pode fazer mais mal que bem. Pode-se buscar o amor dos homens oferecendo a salvação, mas não há que se preocupar muito com isso. Afinal, queres agradar a Deus ou aos homens? Queres conquistar o amor de Deus ou o amor dos homens? Um desejo de agradar os homens está na raiz da idolatria; outro desejo de agradar os homens é para atraí-los a Deus. Mas agradar apenas se for ocasião de edificação. Não deves ser zotico, incivil, indiscreto para que esses vícios são sejam atribuídos à Virtude. Sete são as formas de agradar de forma virtuosa: (i) sabedoria no falar; (ii) prudência no aconselhar; (iii) a mansidão em responder; (iv) modéstia quando em condição próspera; (v) fortaleza nas coisas adversas; (vi) liberalidade com aqueles com quem se vive; (vii) piedade com com aqueles que estão mortos. Todas elas se encontravam em São Gregório. Vero è che modo da piacere anche à gl'invidiosi non v'é. Ma ciò che rilieva? Non però San Gregorio rimase al fin di risplendere ognor più illustre nel Trono del Vaticano, perche vi furono alcuni, i quali mostrarono a lui quell'aborrimento, che da gli ucelli nortuni si mostra al Sole.

(marzo xii, an quaero homibus placere... ad. Gala. I. 10)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Pacea adanca 'mi ai rapit

A intenção de pecar, aqui associada por Segneri ao pecado contra o Espírito Santo, diretamente condenado por Jesus no Evangelho, recebeu aqui uma descrição jurídica familiar: a figura da mens rea ou a mente ré. No direito costumeiro anglo-saxão, um ato não faz de alguém um culpado se a mente não for culpada; no Código Penal Brasileiro (artigo 18, inciso I) uma ação é dolosa quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

Segneri segue apenas um caminho fácil, contudo, porque são conhecidos os paradoxos do dolo. Basta a consideração, quase clássica, do atirador de facas para entender que a ameaça à vida de outra pessoa pode assumir contextos muito variáveis. O atirador treina para não ferir ninguém, ainda que possa, por vontade própria, fazê-lo. O alvo do atirador de facas assume essa condição por vontade própria, consciente dos riscos. O espectador soma uma dimensão a mais ao cenário. Sem ele, o evento não aconteceria. É o mesmo caso de um motorista que, para salvar alguém, excede a velocidade, contraria as leis do trânsito e termina acidentando um terceiro.

Transpondo a figura para o contexto teológico, é fácil perceber que, como o pecado é confirmado apenas pela sua ocorrência, expor-se a situações pecaminosas poderia refletir apenas um desejo de testar-se espiritualmente ou a confiança na capacidade própria de resistir ao pecado. Quanto ao alvo – o pecado – claro está que busca atrair o pecador para a falta: no cenário do atirador de facas, o pecado move-se, atrapalha a concentração do atirador, influi sobre sua disposição de não ferir. Por fim, nada de ruim aconteceria se Deus – o espectador – não propiciasse a ocasião para o homem ser testado pelo pecado.

O argumento do pecador hipotético, meramente mencionado por Segneri, tem lá sua força. O dolo é quase sempre ambíguo e, no Purgatório, os pecados mortais serão afinal cancelados. Quanto aos veniais, também sua culpa será apagada.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quicunque dixerit verbum contra filium hominis

Considera, che chiunque pecca, ò pecca per fragilità, ò pecca per ignoranza, ò pecca per malizia. O primeiro se opõe ao Pai; o segundo, ao Filho; o terceiro, ao Espírito Santo. Este é irremissível. Uma coisa é ser alcançado pelo Pecado de forma impetuosa; outra é fazê-lo reinar e, assim, amá-lo. A vontade não é tão fácil de curar como o apetite ou o intelecto. É cativa porque deseja ser cativa. Este é o Pecado sem perdão, incurável. E o problema é que muitas vezes pensas pecar por fragilidade, mas é por malícia. Ou pecar por ignorância, mas é por malícia. Porque te colocas em uma posição de fragilidade; porque te recusas a estudar. Não compareces a prédicas; buscas confessores ignorantes, conselheiro infiéis. Não admira que tantos sejam danados por esse engano. Fratanto mentre odi, che v'è peccato, il quale non è rimesso, ne nel secolo presente, ne nel futuro, quindi argomenta, che v'è nel futuro secolo Purgatorio, dove cancellansi i peccati mortali, quanto alla pena, e veniali non solo alla pena, ma quanto ancora alla colpa.

(marzo xi, Quicunque dixerit verbum contra filium hominis... Mateus 12, 32)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

40

Quase todas as virtudes desta severa legenda estão associadas ao conceito de número. Os quarenta mártires foram soldados romanos de Legião XII Fulminata, mortos no ano de 320 em Sebaste, na Armênia, no curso da perseguição ordenada pelo Imperador Licínio (263-325), e sua história é contada em uma homilia do bispo Basílio de Cesaréia (370-379). Tendo confessado sua fé cristã, em um número que desafia uma identificação pessoal e sugere a força da conversão maciça, eles foram condenados à exposição, nus, em um lago, na mais fria noite. O prefeito da Legião somou ao frio do martírio a promessa de banhos quentes, preparados bem perto ao lago, para os que abjurassem. De fato, um dos soldados não resiste e abjura de sua fé. Nesse momento, uma estranha luz cai sobre os mártires. Uma sentinela, que guarda os mártires, a vê, joga fora suas roupas e mergulha na água gélida para morrer com os outros e restaura a simetria dos quarenta. Na manhã seguinte, seus corpos, os mortos e os ainda vivos, são queimados e suas cinzas espalhadas.

O relato, o sadismo, o número de vítimas e os cadáveres queimados podem recordar horrores do século XX. Sua retórica numérica vai, contudo, além de um massacre anônimo e sem face. Um, dentre eles, traiu e abjurou. Outro, vendo o sacrifício, abraçou a promessa da Fé. A pergunta de Segneri, portanto, não é quantos somos, em qualquer dos lados, mas "em que lado estamos"?

Esse tipo de horror e de conversão entre soldados não é privilégio dos primeiros séculos, nem, talvez, da fé em Cristo. Glenn Gray, um estudante de filosofia que lutou na França como oficial de inteligência do Exército dos Estados Unidos narra que, em agosto de 1944, interrogou um soldado alemão que, depois de participar de algum ataque a civis na França ocupada, desertou e lutava ferozmente ao lado dos resistentes franceses. Gray suspeita que o episódio que levou à sua deserção foi o macabro massacre de Oradour. Diante do horror generalizado, viu alguma luz estranha, abjurou e mudou de lado. Não foi o único:

“In the Netherlands, the Dutch tell of a German soldier who was a member of an execution squad ordered to shoot innocent hostages. Suddenly he stepped out of rank and refused to participate in the execution. On the spot he was charged with treason by the officer in charge and was placed with the hostages, where he was promptly executed by his comrades."  J. Glenn Gray. The Warriors. Reflections on Men in Battle, 1959. págs 185-186.



Igreja dos Quarenta Mártires. Bitola. Macedônia

domingo, 24 de outubro de 2010

Domnii mei se pot tóte

A sutileza da pregação de Segneri opera, nesse meditação, sobre um duplo registro: um, teológico; outro, histórico. A advertência pastoral é familiar: Deus não precisa de ninguém; ele oferece sua graça aos que emendam seus caminhos. Cuidar da salvação é uma decisão pessoal, com repercussões sobre a vida de cada um. Deus não é prejudicada por sua descrença. Na sura 10, Muhammad escreve: "Se seu Senhor quisesse, todos os homens seriam crentes" (vv. 99). A advertência histórica é mais interessante. Começa pela facilidade em converter fiéis para substituir os falsos crentes, mas aponta para o "risco" representado pelas áreas de expansão do catolicismo na América do Sul. O crente europeu não vê o seu privilégio quando considera as imensas populações do Novo Mundo que jamais receberam, até aquele momento, a Graça do Senhor. E não considera também que sua Mensagem está chegando ao Peru, ao Paraguai e ao Chile.

Trezentos anos depois de Segneri, sua profecia, ao menos no domínio do catolicismo, é tema corrente das discussões sobre religião. Desde a ascensão de Bento XVI, o declínio do catolicismo na Europa e seu deslocamento para as Américas é objeto de atenção. Na verdade, a própria eleição de Ratzinger, um alemão do sul católico, pode ser vista como uma resposta a esse problema. Afinal, em meados da década de 2000, o sudeste europeu, que inclui, as nações ibéricas e a Itália possui ainda 92% de católicos, mas, no contexto mundial, essa população representa apenas 12% dos fiéis em termos mundiais. Nos países da América do Sul, os católicos representam 81% da população, mas são 28% do total. A Europa de Segneri representa hoje, em termos relativos, menos da metade da América do Sul aberta, no século XVI, aos missionários católicos.






"E se o Senhor quisesse, os que estão na Terra haveriam de crer - todos. Então, haverias tu de obrigá-los a crer?"

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Iustificati ergo ex fide

Considera, che ciò, che desnima molti dal perseverare nel bene, c'han cominciato, è figurarsi d'havere a viver ancora assai lungamente. E però ti c'hai da fare per rincorarti? Tutto il contrario. Pensa que hoje é o último dia da vida. Este é um aguilhão fortíssimo. O Senhor poderia vir como um ladrão, mas não o faz, te manda ajuda. A trombeta que convoca para o Julgamento é última; muitas soam antes: quando alguém cai de uma escada, é um trombeta; quando outro é morto pelo ferro, uma trombeta. Há que perseverar: perderias a Coroa por causa de alguns dias? É para teu Bem; não para o bem do Senhor. Não Lhe faltarão outros servos, se tu vieres a faltar. No mesmo dia em que um cai no pecado, o Senhor converte infiéis, como os Quarenta Mártires. Deus não precisa de ti. A Coroa não será conseguida à força. Ele te preferiu. Quante Anime hà abbandonate là nell'America, a cui non hà fatta una minima parte di quelle grazie c'hà fatte a te. Se però vedendo oramai la tua ingratitudine lasci a te, e le ne vada là nel Perù, nel Paraquari, nel Chile a ritrovarsi chi erediti la Corona a te prima offerta, ti potrai tu per ventura di lui dolere?

(marzo ix, Ecce venio citò, tene quod habes, ut nemo. Apocalipse. 3. 11).

sábado, 16 de outubro de 2010

Santa Francesca Romana

A referência de Segneri é precisa. De Santa Francesca Romana (1384-1440) ou Francesca Bussa de’ Buxi de’Leoni poderia ser dito que teve uma vida quase comum, tocada apenas pela paixão da caridade e pelo infortúnio comum de seu tempo. De família nobre e rica, teve boa instrução e casou aos treze anos de idade com Lorenzo de’ Ponziani, também rico e nobre. Frustrada em sua vocação religiosa, Francesca pensou em deixar-se morrer de fome, mas Santo Aleixo a visitou em sonhos, avisando que o Senhor desejava que vivesse. Aceitou os dons da vida, o marido, os filhos, uma palácio, mas dedicou-se desde cedo à caridade. Certa vez, recebeu a guarda dos armazéns do sócio de seu marido e deu tudo aos pobres. Antes que ele reclamasse, os armazéns foram miraculosamente reabastecidos.Não ligava para festas ou convenções sociais, vendeu suas roupas e suas jóias. É verdade que lutou com o demônio, fez uma viagem mística ao Inferno e ao Purgatório e teve seus êxtases, mas estes foram comunicados a seu confessor. Apenas em 1870, essas confissões foram publicadas pela Igreja.

Em 1409, as provações começaram. Seu marido, comandante das tropas papais foi ferido em batalha e ficou paralítico. Em 1410, sua casa foi saqueada por inimigos políticos do Papa, seu marido teve de fugir e um de seus filhos foi levado como refém por Ladislau, rei de Nápoles. Durante uma epidemia de peste, abriu seu palácio aos doentes, dois filhos contraíram a doença e faleceram, Inês e Evangelista. A vida, porém, seguiu. Depois da guerra, dos saques e da peste, voltou a viver com seu marido doente e seu único filho, sempre trabalhando pelos pobres. A partir desse tempo, dizia ser acompanhada todo o tempo por um Anjo, que lhe apareceu em sonhos, ao lado de seu filho. Em 1425, com um grupo de amigas, funda uma associação de caridade, as Oblatas Olivetanas de Maria, depois Oblatas de Santa Francesca Romana. Com a morte do marido em 1436, após quarenta anos de casamento, passou formalmente à vida religiosa na congregação que fundara, ensinando suas revelações às irmãs, promovendo a caridade e pregando em favor do fim do Grande Cisma. Morreu, porém, em sua casa, o Palácio Ponziani, onde fora assistir seu filho doente. Seu filho recuperou-se; ela faleceu no dia 9 de março, o mesmo dia em que nasceu o escritor dessa nota. Foi supultada na Igreja que leva seu nome, praticamente onde esteve o Templo de Vênus e de Roma, e declarada santa em 29 de maio de 1608. É invocada como protetora em tempos de peste e, desde 1951, é a a protetora dos motoristas. O Mal nunca lhe desviou do Bem.

(Artigo de Antônio Borrelli: http://www.santiebeati.it/dettaglio/26350)




Giovanni Antonio Galli, dito Spadarino (1585-1652). Santa Francesca Romana com o Anjo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

et percutiebant caput eius

Considera, che trà sorti d'Infermi si trovano. Uns querem se curar, mas não querem tomar remédio. Aquela bebida é amarga; aquele ferro, muito cruel. Outros aceitam o remédio, mas a seu modo. Como Naman, que pedia a cura para sua lepra, mas não queria se banhar no Jordão. Por fim, há aqueles que se apresentam diante do Senhor, pondo-se completamente em suas mãos. Corta-me, mas cura-me. Ora, esse é o único método de curar. Estás enfermo e de moléstia mortal; deixa que o Senhor aplique o remédio que te convém. Considera que o médico nem sempre age com sua própria mão, mas entrega a tarefa a mãos menos nobres, como de um Cirúrgico, de um Especial ou de um Servente. Assim faz Deus: tua salvação vem por vezes de alguém de baixa condição, de alguém muito inferior a ti. Não olhes quem aplica o medicamento, mas o medicamento. Considera que quando o remédio é doloroso, o que é pedido é que o sintas, o sofra. Não quereles com o médico que te corta, paga-o. Considera que nas humanas tribulações, não há tanto a dor, quanto a ignomínia, não tanto o dano, quanto o insulto. Deus assim te humilha e testa tua paciência. Um Príncipe, para aceitar uma moeda no seu reino, se conforma com sua aparência? Não, a testa no fogo. Queres que no Céu corra a moeda falsa? Così fece questa gran Santa di oggi, che può giustamente chiamarsi donna forte, per la sodezza, la qual mostrò in tante prouve, che Dio ne tolse, di dolore egualmente, e di umiliazonie.

(marzo ix, Omne modo tibi applicitum fuerit ... Eccli 2. 4)

Sufla un vînt, si luna 'ngrozita

A figura da espera de Deus pelo pecador é clássica na oratória cristã, sendo conhecida a associação com a Parábola do Filho Pródigo. O problema do julgamento de Deus não é o seu exercício, mas o seu tempo; Ele não precisa de razões para punir, pode fazê-lo a qualquer momento, mas espera para perdoar. Em sua meditação, contudo, Segneri vai um pouco além desse lugar comum. Fino analista da alma humana, sabe o quanto sua correção depende do julgamento subjetivo do tempo. Quem faz o mal, sabe que faz e acredita também que há tempo de sobra, na vida, para se arrepender e corrigir seus passos. Como escreveu Santo Agostinho: dai-me continência e recato, mas não agora! A meditação proposta por Segneri visa a tranquilidade do pecador, a sensação de que a vida é longa, de que o Senhor é paciente. Para o Homem, o curso da vida é o calendário, o número fixo de dias e meses e a confiança nos anos que ainda há por vir. Posso pecar de janeiro a novembro, se me arrepender em dezembro. Os números de Deus, contudo, são inescrutáveis. O seu tempo, alerta Segneri, pode já estar cumprido.

O comentário de Sócrates, sobre esse mesmo ponto, é mais leve. Muitos homens afirmam que ainda é cedo para que iniciem o estudo da Filosofia. Não os entendo - é como adiar o início da felicidade.



sábado, 31 de julho de 2010

an divitias bonitatis ejus

Considera quanto perniciosa ignoranza sia questa: non sapere perché Iddio tolleri tanto pazientemente nel tuo peccato. Pois que ignoras, não te corriges. Deus pode enviá-lo agora ao Inferno, mas espera. Não bastaria essa magnificência para comover teu coração? Como não tremes diante da possibilidade de que Ele te abandones e te entregue à Justiça Divina? A Bondade de Deus é infinita, mas tem um número finito e inescrutável para te tolerar. Quem sabe se ele não está computado? Uma coisa é a Misericordia como atributo, outra, como ato. Questi pur troppo hanno fine. Multae sunt miserationes ejus, così si dice; ma non così mai si dice infinitae sunt.

(marzo viii, ignoras quonian benignitas... Rom 2. 4)

domingo, 25 de julho de 2010

Numai relijiósa a candelei lumina


Renn Dickson Hampden. The Life of Thomas Aquinas. A Dissertation of the Scholastic Philosophy of the Middle Ages. London, Griffin, 1848, pág 25.

S'a stelelor de aur multime luminósa


A tentação de São Tomás (1338)
Bernado Daddi (c.1280-1348)


A tentação de São Tomás (1632)
Diego Velázquez (c.1599-1660)

Entre a tela de Daddi e a de Velázquez, 300 anos e notável evolução iconográfica. Na tela medieval, apenas os dois anjos da legenda e uma mulher, vestida, cuja única indicação sobre sua posição no quadro é a falta de uma auréola. São Tomás busca apenas a proteção da Cruz. Em Velázquez, a descrição completa do episódio. Os livros com que estudava, o tição com que afastara a mulher enviada pelos irmãos, o curativo que lhe fazem os anjos. Em dupla, por sinal, como na tela de Daddi. Velázquez também não se arrisca a incluir uma mulher nua no mesmo cômodo em que está São Tomás. Estudo ou mulheres? Um dilema que jamais afetou outro santo, Agostinho.

Mulier enim statim ut audivit eo

Considera, la differenza, che passa tra la Sapienza divina, di cui quì si ragiona, e tra la Prudenza ambedue per altro unitissime, come quelle que sono due d'un istesso Spirito Santo. A sabedoria nos faz conhecer o último fim, que é Deus; a Prudência nos guia a esse fim. A Sabedoria deve ser tua esposa; a Prudência, tua amiga. A Sabedoria luta contra tua Sensualidade; a Prudência, contra tua Humanidade, sempre pronta a dizer que a salvação exige um sacrifício mínimo. Vê o caso de São Tomás e a mulher: o quanto exige a santidade em Sabedoria e Prudência. Sapienza per tener sempre vivissima nella mente la cognizione del tuo ultimo fine, per aderire a lui con fortezza; Prudenza per fuggire le occasione pericolose, ó per isbrigartene quando esse vengono contro tua voglia a trovarti.

(marzo vii, Dic Sapientiae; soror mea es..., Provérbios 7, 4)

domingo, 27 de junho de 2010

Încerce acum sórta sa'mi crasca suferira

Uma vez mais, é digna de nota a sensibilidade de Segneri ao problema sociológico da fé. Sua meditação trata mais diretamente da necessidade do sacrifício a Deus, mas, de forma sutil, enfatiza que tal sacrifício é de tanto maior valor quanto maior é a posição social de quem se sacrifica. Instintivamente percebe o que a sociologia inglesa dos anos 1970, em desafio à visão convencional do marxismo, afirmava sobre o real alvo da ideologia. O objeto do trabalho ideológico mais sofisticado não podem ser os oprimidos, que mal têm condições de compreender seu próprio mundo, mas as elites, no sentido amplo do termo. São as elites que dispõe do conhecimento e do poder social para a manutenção da ordem e precisam acreditar em tal ordem. Quando as elites desertam, é um claro sinal do fim - uma constatação válida seja para a religião organizada, seja para o socialismo real.

Segneri, aliás, também não se limita a um lamento crepuscular sobre o abandono da fé pelos ricos e poderosos de seu tempo. Responde ironicamente à argumentação de que o sacrifício a Deus é penoso. O hedonismo (o de então e o de agora) apenas substitui uma submissão por outra. O que é melhor, pergunta, sacrificar-se a Deus e ao próximo ou sacrificar-se ao ventre e ao dinheiro? É inevitável lembrar a linha de Paulo: que adianta ao Homem ganhar o Mundo se perder sua Alma?

Obsecro vos per misericordia

Considera, che pietà grande sia questa: vedere alcuni, i quali potrebbono fare a Dio de lor corpi un sagrifizio belissimo, e tuttavia non conoscono la lor sorte. Jovens e ricos, que vítimas seriam para Deus! E no entanto, se rendem ao Mundo. Fazem, no máximo, um sacrifício ordinário, não nobre. Três coisas fazem o sacrifício: a Vítima, a Oblação e a Ocisão. Metafórico, mas sacrifício. Pensas em manter o teu corpo e não oferecê-lo em sacrifício. Três são os modos de oferecer sacrifício: 1. padecer pelo culto do Senhor; 2. penitenciar-te como réu diante de Deus; 3. as fadigas no serviço do próximo. A que Deus, afinal, sacrificas teu corpo: o ventre? O dinheiro? Queremos que sejas vítima, mas vítima santa e não imunda. Queremos que seja vítima, mas vítima razoável, não como um boi ou uma cabra. Ma chi non sa che'l fine, solo è quello c'ha da volersi senza misura, siccome vogliono gl'infermi la sanità? Il mezzo si ha da volere fino a quel segno, che sia giovevole al fine, siccome vogliono parimente gl'infermi la medicina.

(marzo vi, Obsecro vos per misericordia Dei..., Romanos 12.1)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Panorama de umbre, se 'ntunec se estrecor


"Tormento do ver", gravura incluída em La Prigione Eterna dell’Inferno. Disegnata in immagini et espresso in Essempij al peccatore duro di cuore, de Giovanni Battista Mannini, S.J.,Veneza, 1666.

Especulação que se foi gastando com o tempo, essa do Inferno. Com essa frase, Jorge Luís Borges começa um dos exames mais devastadores dessa venerável instituição teológica. No ensaio "A duração do inferno", publicado em Discussão (1932), ele faz a observação decisiva: é indiscutível um cansaço geral na propaganda desse estabelecimento. A eternidade do Inferno, citando Rothe, seria a eternidade do Mal - um fato dificilmente compatível com a bondade de Deus. Curiosamente, uma das fontes de despretígio do Corão no Ocidente não era seu convencional Inferno, mas seu Paraíso sexual.

Mais interessante, creio eu, do que o gradual desgaste do Inferno, patente ainda em meados do século XIX, é o entusiasmo dos escritores jesuítas com seu uso moral e, portanto, com as descrições detalhadas do estabelecimento. Mesmo Segneri não se furta a reflexões de ordem física sobre a natureza exata do fogo eterno e como compatibilizar a idéia de fogo com a ausência de luz no Inferno. Mesmo a fauna do inferno, composta por insetos repelentes e feras selvagens, é recorrentemente enfatizada. Parece-me inevitável supor que o avanço do conhecimento científico sobre a biologia dos seres vivos e sobre os fenômenos físicos em muito contribuiu para o ceticismo quanto a este Inferno descrito com tanta precisão.

Ao insistir do uso de fenômenos e seres vivos para compor a imagem do Inferno, os autores jesuítas estavam abrindo caminho, na verdade, para sua inverosimelhança futura. Se tivessem enfatizado a natureza moral do castigo imposto por Deus e preferido uma forma literária mais imprecisa, talvez o Inferno tivesse atravessado os séculos em melhor forma. Nos dias que vão, o Vaticano tem grande cuidado quando descreve o Inferno e revela um evidente temor do deboche da mídia.

No fundo, os jesuítas, com sua preocupação constante com a propaganda da fé, terminaram comentendo um erro comum em matéria de marketing e opinião pública. Ficaram presos à visão de apenas um público; quando este desapareceu, o Inferno não estava apenas condenado, estava obsoleto como um telégrafo ou uma máquina de escrever. Como bem notou Borges, foi possível a Baudelaire ansiar pelo Inferno e iniciar uma tradição da arte popular do século XX. Qualquer "conjunto de rock", quando quer elevar as vendas, flerta com o Inferno. Mais uma culpa da ordem de São Inácio.

sábado, 22 de maio de 2010

Verumtamen ecce manus tradentis me

Considera, che il fuoco dell'Inferno è chiamato fuoco divoratore, non perchè consumi mai niuno, mas per dinotare l'avidità con cui s'appiglia, l'attività con cui si affatica, e l'acerbità con cui opera, non lasciando nel dannato una minima particella, di cui per così dire non faccia un'orrenda strage. O nosso fogo queima aos poucos, aquele, de uma vez e opera eternamente. Que fará aquele Povo a quem caberá prová-lo? Considera que coisa terrível é ter habitação eterna nesse fogo. Considera que no Inferno não faltam feras da Terra e outras infinitas. Todos os danados estarão consumidos pelo fogo e consumirão um ao outro. Não haverá luz desse fogo, mas apenas fumo e eterna noite. E não penses que apenas pagãos e heréticos ali habitarão. Mira quanto sei dilicato, che ancor i lini nel tuo letto ti offendono, se son aspri. Che farai dunque cum igne, misero te, e cum igne ancor devorante?

(marzo v, Isaías 33, 14, Quis poteri habitare de vobis cum igne devorante?)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O sigura privire viata vestejaste cu lanturi de amor!

"Quando quero rir da loucura humana, não preciso ir muito longe; rio de mim mesmo" (Cartas a Lucílio, Seneca)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Transfretemus trans stagnum

Considera, che affine di ritrovare materia abbondevolissima di umiliarti; non accade che vadi punto fuor di te stesso: cercala pur dentro di te. Se olhas a ti mesmo de fora, verás talvez as honras, o ouro, a autoridade, os que te cortejam e aplaudem. Considera apenas três perguntas: que fostes? que és? que serás? Considera a iniquidade de sua vida passada, a ingratidão da vida presente e a incerteza da vida futura. Sabes como hás de morrer? Vê que nada há de bom que tenha nascido de dentro de ti. Não basta que te humilhes em pensamento, mas que conheças verdadeiramente teu coração. Perche nel tuo cuore convien che alberghi la bassa stima di te, non la bassa stima degli altri. Ma quanto è facile, che succeda l'opposto, mentre tu sempre pensi a gli altrui difetti, non pensi a tuoi?

(marzo iv, Humiliatio tua in medio tui, Oséias 9, 14*)

* Na verdade, Miquéias 6, 14: "Tu comerás, mas não te fartarás; e a tua humilhação estará no meio de ti; removerás, mas não livrarás; e aquilo que livrares, eu o entregarei à espada."

Unde acele fiinte cu care am crescut?

"Júris respeitam advogados que lutam duramente e se preocupam com seu cliente. Paixão e compromisso contam e jurados percebem isso na sala do tribunal. Advogados nunca param de lutar por seus clientes. Jurados respeitam advogados que assumem uma posição moral, que relacionam a causa do cliente com princípios fundamentais com isenção, decência e justiça. Bons advogados alcançam o coração e a mente dos jurados e fazem com que se importem. Motivam os jurados a corrigir um erro, alcançar um resultado isento e fazer do mundo um lugar melhor." (Thomas Mauet, Trials. Strategy, Skills and the New Powers of Persuasion, 2005, pág 11).


quinta-feira, 22 de abril de 2010

De unde oar' vine a ta reverie?

Marc de Bonnyers (Arras, 1595; S.J. 1612; Lille, 1615) é um autor jesuíta devidamente biografado na Biblioteca de escritores de sua ordem, publicada pelos irmãos Backer em 1853 na cidade de Liège. É o autor original do Abogado del Purgatório o methodo fácil dispuesto em vários sufrágios com que pueden ser socorridas las animas de todos los estados de personas, publicado em versão para o espanhol na cidade de Valência, em 1678.

Segundo a Biblioteca, é sua única obra, publicada em 1632. Trata-se de uma interessante extensão do modelo legal exposto na nota anterior de Segneri, ao buscar a ajuda de advogados quando Jesus deixou de sê-lo, para assumir o posto de Juiz.

Segundo Boniers, os três principais instrumentos para reduzir o sofrimento dos que estão no Purgatório são as esmolas, o jejum e a oração. Os advogados que têm maior obrigação de atender as almas em expiação são os sacerdotes, os filhos, os casados, os herdeiros e os discípulos. Não havendo precisão sobre o período em que as almas ficam no Purgatório, a verdade é que a idéia de um processo legal de condenação e apelo podia se estender até o dia do Juízo. Há pelo menos uma passagem perturbadora em seu livro, quando narra a experiência de certos prelados que, dormindo próximos a cemitérios, ouviam os lamentos e os gritos das almas no Purgatório ou mesmo recebiam sua visita espectral.


domingo, 18 de abril de 2010

Et accepto calice

Considera, che quell' istesso Signore, il quale ora siede all destra del Padre facendo per te l'Avvocato, dovrà quanto prima leversi su per venirti incontro, non più l'Avvocato, ma Giudice. Por ora, toda a terra te favorece, te alimenta, te sustenta; mas no último dia Jesus deixará esse posto piedoso para te julgar - o mais funesto acidente que pode acontecer a um réu. Quando não há mais para onde apelar, o que então hás de fazer? Enganar a Cristo? Ele não é um juiz humano, não aceita presentes, não respeita pessoas. Ele não se aplaca, não é colérico, não pune por ímpeto, não se pode fugir, mas não te condenará sem ouvir tua defesa. Ele de tudo sabe e te resta duas defesas: desculpas ou escusas. As escusas são inúteis porque a culpa existe; restam as desculpas. Há duas espécies: por ignorância ou por fragilidade. Como alegar, contudo, ignorância, tendo vivido em meio à Cristandade? Como alegar fragilidade, se hás cometido tudo por vontade própria? Se não buscastes a ajuda divina? Não resta, assim, senão a sentença da eterna condenação. Que hás de fazer: correr aos campos, despenhar-te em precipícios? Que benefício poderia trazer-te? Não é mais tempo de súplicas, mas de suplícios. Se fusse chi te sentenzia un' huomo straniero, un'alieno, un'avverso, gli potresti dare eccezzione, come a crudele. Ma un'Avvocato! Uno ch'à per te sparso in Croce tutto il suo sangue e che alla destra del Padre non ha poi fatto altro mai qie pregare per te, che perorare per te, che cercare in tante maniere di darti il Cielo! Non può la sua sentenza non essere inappellabile, se ti condanna all'Inferno.

(marzo iii, Quid faciam cum surrexerit, Jó 31.14)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Singurul bine, singura'mi pace

Se a nota de Segneri em nada se afasta da literatura contemporânea de auto-ajuda, qual o objetivo técnico da edificação moderna? No que ele difere dos propósitos da edificação cristã?

Se a modernidade é prova do fracasso da prédica de Segneri, porque a auto-ajuda triunfará sobre seus adversários?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Dicebat ergo ad turbas

Considera, che pochi nel servizio Divino son quei, che con verità possano chiamarsi robusti. Trinta eram os fortes de Davi, mas os robustos não passavam de três. Como podes te dizer robusto quande cedes a qualquer dificuldade da vida espiritual. Considera como deves te governar para obter a robusteza do espírito: é como deves fazer para a robusteza do corpo - sanidade, sustento e exercício. É preciso manter a alma longe do pecado, bem alimentada de orações e exercício contínuo na virtude. Há que acumular vitórias cotidianas. Parece-te segura a Cidade que confia apenas nos seus muros e não ergue fortificações? É preciso aspirar sempre por mais. Se és paciente, sejas mais; se és humilde, sejas mais. Se nel esercizio delle virtù tu non pigli la mira altissima, sempre colpirai giù dal segno.

(marzo ii, Cogitationes robusti semper in abundantia, Provérbios 21,5)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Speranta mea din lume de morte precurma

Usam o que merecem, diziam os pagões sobre os cristãos que portavam uma imagem da cruz. Para um olhar externo, nada é mais distintivo da religião cristã do que o uso, como símbolo, de um instrumento de execução. Forcas, machados ou guilhotinhas são candidatos pouco prováveis a um imagninário piedoso. Evocam o sentimento do sombrio e do macabro e não devia ser pequeno, na Antiguidade, o espanto diante do desafio que representava portar o símbolo da cruz. Para usar a terminologia contemporânea, a cruz representava uma contra-cultura, deliberadamente desafiadora da ordem legal e do imaginário do mundo pagão. No mínimo, um sinal de desprezo pela punição mais degradante que o Estado poderia infligir.

O crucifixo na sua versão canônica, com o corpo de Jesus Cristo, fazendo referência a uma execução específica e não à ameaça geral que pairava sobre os primeiros cristãos no mundo romano, é bem mais tardio. Os primeiros exemplares, ainda rudimentos pintados, datam do século VI e exemplos similares aos modernos crucifixos são ainda mais tardios, datando dos séculos VIII e IX. Em certas regiões da Europa, só aparecem depois do ano 1000. É natural concluir que o crucifixo, como símbolo da ressurreição de Jesus, pertence ao mundo da Igreja triunfante e não mais ao mundo de uma comunidade de perseguidos que orgulhosamente desafiavam a lei de Roma.

A discussão sobre natureza exata do simbolismo do crucifixo, o único companheiro fiel do solitário condenado à morte, como descreveu Segneri, está longe ainda, dois mil anos depois, de se transformar em uma questão acadêmica. As polêmicas causadas pelo uso da cruz seguem vivas nas escolas, nos tribunais ou mesmo na indumentária de aeromoças. Roma, ou o Estado laico, triunfou novamente no Ocidente e a cruz voltou a ser motivo de escândalo.

Os símbolos religiosos são, em geral, questionados pelo Estado, na França, na Turquia ou na Suíça, mas lenços, minaretes, roupas e amuletos africanos são exóticos ou folclóricos demais para ameaçar a ordem laica do Ocidente. Não a Cruz, que desafia o monopólio da violência a custo conquistado pelo Estado nos últimos quinhentos anos.





Em janeiro de 2009, o reverendo Ewen Souter Igreja de São João em Broadbridge Heath, Sussex, Inglaterra, determinou a retirada de um crucifixo que estava "assustando crianças e desagradando fiéis". Esculpido por Edward Copnall em 1960, o crucifixo é feito de pó de carvão e resina. Alude, obviamente, ao sofrimento de outros judeus que, como Jesus, foram torturados e mortos por tiranos no século XX. A alegação é que os cristãos preferem ver a cruz vazia, de onde saiu o ressuscitado, que a cruz da Paixão. Uma parte da imprensa inglesa foi contra a retirada: "Se Maria e João contemplaram Jesus na Cruz, deveríamos estar prontos a fazer o mesmo", comentou um blogueiro.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Et accepto pane gratias egit

Considera, che queste parole dovresti havere sempre in bocca considerandoti ormai vicino alla morte, giacche furono appunto parole dette dal Salmista in persona di chi stava già moribondo (Salmo 21,12). Grande tribulação é a Morte: perder as coisas, os entes queridos, as posições nesse mundo, as faculdades. Grande tribulação pelos sofrimentos que impõe e pela dor da consciência. Não vês como correm os anos? Corrige os erros enquanto tens tempo. Considera que a Morte é tribulação solitária: te abandonarão os amigos, os médicos e mesmo os religiosos e te sobrará apenas um crucifixo. Pensa em tua alma, calca sob os pés tantos respeitos humanos, não sejas servo dos ingratos. Se pur per huomo non si deve intender in questo luogo il demonio stesso, chiamato molte volte ancor'egli nelle scriture con questo nome di huomo: Inimicos homo, malus homo, mendax homo, non perchè punto tu n'habbi in morte a sperare di umanità, mas perchè è stato il soggiogatore dell'huomo; como Scipione fu chiamato Africano dal suo solene soggiogamento dell'Africa.

(marzo i,  Salmo 22, 12, Deus meus es tu... )

sábado, 27 de fevereiro de 2010

dalla sapiente scenografia devota di Paolo Segneri

Ao fim de fevereiro e completados dois meses de resenhas, o breve artigo de Marucci ilumina o aspecto mais fascinante da personalidade intelectual de Segneri. Sua fina capacidade de observação psicológica não pode ser atribuída apenas às sutilezas de um orador sacro. Segneri devotou boa parte de sua vida pastoral às missões evangélicas junto aos camponeses do interior da Itália, com espantoso sucesso. Percorria as pequenas cidades do campo levando uma mensagem de arrependimento e correção, obtendo resultados consistentes e tornando-se adorado pelas massas rurais.

O exame dos registros das missões, feitos pelo punho de Segneri, mostra ainda como ele corrigia e adaptava suas técnicas e sermões de acordo com a experiência colhida no campo de trabalho. A técnica jesuíta do teatro da fé, um espetáculo catártico baseado no sucesso do teatro profano, era, assim, sofisticada ao ponto de incluir a participação do público, que subia ao altar para receber o aplauso geral pela confissão, pela correção de seus caminhos ou pela entrega ao fogo dos intrumentos do pecado: dados, cartas de baralho, etc.

O sucesso de Segneri como agente a ator do teatro da fé, que o levava, inclusive, a violar a proibição de flagelação em público, conduz naturalmente à indagação sobre o declínio da prática ao longo do século XVIII. É visível um paralelismo com o declínio da música religiosa. Afinal, o que havia de errado com o espetáculo da fë?

Valerio Marucci, "Paolo Segneri e le missioni rurali". in Paolo Segneri: un classico della tradizione cristiana. Atti del Convegno Internazionale di Studi su Paolo Segneri nel 300° anniversario della morte (1694-1994). Nettuno, 9 de dezembro de 1994, 18-21 de maio de 1995.


Patientia autem opus perfectum habet

Considera, per qual cagione si dice, che l'essere tribolato ti apporterà tutti quei beni, sì grandi, di cui nella meditazione precedente si è raggionato: perchè ti dà la pazienza. Estuda, especula e enamora-te da paciência. Ela é a resignação de Cristo em sua cruz. É preciso praticá-la, pois não basta a ciência, mas a experiência. Assim com o Filho de Deus, teve mais piedade de nós porque suportou quando vestido com a carna humana. A virtude não se adquire da forma mais fácil: se foges das ocasiões de sofrer e buscas o aplauso, como se tornarás um soldado de Cristo? Alguma vez encontraste alguém que tenha se tornado bravo soldado por estudar livros? É preciso provar-se no campo de batalha. A Paciência basta, em lugar de toda a virtude, mas, sem ela, não terás virtude de valor. E così torna di nuovo ad imprimerti nella mente, quanto sia bene spesa per acquitarla ogni gran fatica, e frattanto domandala a quel Signore, il qual è ogni nostro bene.

(febbrajo xxixx, Probatio fidei vostre Patientiam operatur..., Tiago 1, 2)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

existimate fratres mei

Considera la forma con cui procedono inumerabili Cristiani, e stupisci. Dicono di tener per indubitato, che su la Terra la vera beatitudine è patir molto. E, assim, quem faz um voto de prata se perdeu a vista? Quem faz uma peregrinação a Loreto se recebeu uma sentença contrária? Quem dedica uma Capela se perdeu um cargo na corte? Quem dota um claustro se perdeu uma cátedra? A fé corre bem como moeda de peso, mas é escassa, é scema. Deixa que Cristo, que São Pedro, que São Paulo, que a razão te governe e deixa o Mundo falar o que quiser. Segue o honesto, o útil, o deleitável. Aprende a sofrer e lembra que os Santos não pediam que se aliviasse uma Cruz, mais que se lhes enviasse outra. As tribulações são dadas, as seduções, permitidas, mas todas são provas de Deus. Paciência, mas isto se explica na meditação seguinte. Sicchè quando l'anno sia bisestile, tu la serbi al segunte dí, e quando ordinário, possi, se ti piace, congiungerla ao dí presente.

(febbrajo xxviii, Omne gaudium, Tiago 1, 2)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Qui volc ausir diverses comtes

Arrependimento não é coisa simples, como notou Segneri:

"Poucos daqueles forçados a prestar contas por suas ações sob Hitler mostraram remorso ou contrição, menos ainda, culpa. Com raras exceções, mostraram-se incapazes, quando chamados a dar conta, de reconhecer sua própria contribuição para o deslizar sem remorso para a barbárie durante a era Nazi. Ao lado das inevitáveis mentiras, distorções e desculpas, frequentemente se percebia um bloqueio em reconhecer a responsabilidade por suas ações. Equivalia à auto-ilusão que espelhava o colapso total de seu sistema de valores e a demolição da imagem idealizada de Hitler, a que se agarraram por tantos anos, que, na verdade, justificava suas motivações. Estiveram contentes por anos vendo seu poder, carreiras, ambições, aspirações depender apenas de Hitler. Agora, em uma lógica perversa, seu próprio sofrimento poderia ser atribuído apenas à criminalidade ou loucura de Hitler. (Ian Kershaw, Hitler. Nemesis (1936-1945), pág 838. Penguin, 2000).

Há uma técnica de sete passos para o arrependimento: http://www.thercg.org/pillar/0504pp-tssor.html

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Be.m conoc per homen estrang

Poucas notas de Segneri revelam tanta capacidade de observação moral como esta referente ao 27 de fevereiro. Ele descreve com sensível eficácia a auto persuasão do pecado, cuja reversão torna-se difícil com a mera passagem do tempo ou mesmo na hora da morte. Alguns números impressionantes são oferecidos por um artigo recente de Stephen K. Rice; Danielle Dirks e Julie J. Exline, publicado no Justice Quarterly, 26(2), págs 295-326. Of Guilt, Defiance, and Repentance: Evidence from Texas Death Chamber examina as manifestações dos prisioneiros às vésperas de sua execução no período entre 1982 e 2005. Nada mais próximo da situação "na hora de nossa morte", uma circunstância realçada pelo fato de que as leis do estado do Texas facultam a presença das famílias das vítimas no momento da execução.

Para começar, 21% dos condenados não se manifestaram na hora derradeira. Preferiram calar "na hora de nossa morte". No universo de 269 prisioneiros executados que se manifestaram, apenas 32% das manifestações envolvem arrependimento. O reconhecimento de culpa é maior (36%). Em cerca de 20% das manifestações há protestos de inocência; em 10% dos casos são ouvidos protestos contra a ilegitimidade da pena capital e em 10% há a afirmação de ser vítima de uma injustiça.

Em favor do gênero humano deve ser dito que a única associação estatística com a manifestação de arrependimento é, de fato, a presença dos parentes das vítimas no momento da execução. Educação, raça, estado mental, idade - nenhum fator demográfico ou biográfico dispõe favoravelmente à manifestação de arrependimento.

Esses estudos estão sendo feitos nos Estados Unidos também para a avaliar a existência ou não da "síndrome do corredor da morte". Psiquiatras alegam, desde os anos 1980, que as condíções de isolamento e estresse, vigentes enquanto o prisioneiro espera longamente por sua execução (um quarto dos condenados morre de causas naturais antes da execução), são causas de doença mental. O prisioneiro, quando desiste de apelar, não estaria no comando de seu julgamento e seria também questionável a presença das vítimas em sua execução.

Essa, contudo, é uma outra discussão, ainda não encerrada, entre duas concepções de justiça - retributiva ou restauradora. Detalhes podem ser conferidos no volume 4, da edição de 2000, do erudito períódico Homicide Studies, publicado pelo Grupo de Pesquisas de Homicídios da Associação Americana de Criminologia.


domingo, 14 de fevereiro de 2010

et nubes suscepit eum ab oculis eorum

Considera, che significa in questo luogo dar gloria da Dio. Quer dizer reconhecer a própria fraqueza, detestá-la, deplorá-la e finalmente fazer a devida penitência. Assim rendemos a Deus a glória que lhe retiramos. O pensamento deve arrepender-se; a palavra confessar; a obra, cumprir a penitência. Deus quer receber como dom aquilo que é devido. E Deus quer súbito. Quanto mais demoras a confessar-te, quanto mais te vires prosperar, menos temerás o pecado; passarás da fornicação ao estupro; do rancor à vilania; da rivalidade à vendetta. Não mais desprezarás o pecado, mas nele te hás de comprazer. Se não consegues em vida, faz ante a morte, mas verás que montes há que superar. Se quiseres fazer uma feliz passagem e devolver a cada um o seu, como farás sem prejudicar tua família? Se quiseres perdoar, quanto ódio terás de superar? Se quiseres a Misericórdia divina, como hás de tê-la desprezado? Quantos assassinos não se escondem nessas montanhas? Prega il Signore, che ti conceda quanto prima di piangere ogni tua colpa, e procura d'andare in tempo apianando quelle Montagne, che alla morte havrai da passare.

(febbrajo xxvii, Date Domino Deo vestro gloriam..., Jeremias 13.16)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

cora ques annes o vengues

James Hollis não deixa que sua formação analítica afete suas boas reflexões. Em Unbidden ideas compelling behaviors, publicada nesse curioso periódico - Literal - registra corretamente que o conteúdo de um vício é menos importante do que a natureza obsessiva do comportamento em questão. O prazer físico ou moral do vício é apenas um objetivo tático, cuja racionalidade última é claramente duvidosa. É a cegueira do pecador, comentada por Segneri.

O objetivo do vício, na verdade, é distrair o espírito de uma chaga ou de uma angústia realmente penosa. O medo primal dessa condição é que empurra os humanos para a obsessão do vício. Esse fato explica, de uma forma bem direta, o fenômeno descrito por Segneri. A muitos, Satanás nem precisa tentá-los: correm atrás do vício e do pecado por livre e espontânea vontade. Pedem por uma tentação, pedem pela condenação.

Hollis e Segneri, contudo, nos deixam sem uma explicação para a origem dessas chagas. O jesuíta desculpa Satanás; o psicanalista alude ao desconhecido:




Falar em inconsciente é falar do que não pode ser examinado diretamente. Do contrário, seria consciente. Sendo inconsciente, como pode ser levado em conta pela consciência? Segneri, ao menos, não aventura sofismas. Sêneca escreveu melhor: Tempestates nos animi quotidie iactant. Está na Epístola LXXXVIII.



sábado, 23 de janeiro de 2010

Quid prodest homini

Considera, che Cristo in questo luogo non dice Quid prodest homini, si Mundum universum lucretur, animae verò suae jacturam patiatur, ma detrimentum; perchè tu sappia, che non solo non torna conto di perder l'anima per aquitar l'Universo, ma ne pur torna conto di sottoporla a qualunque pregiudizio spirituale, per minimo, ch'egli sia. Sabes tu quanto vale um mínimo de glória? Vale mais que todas as monarquias e se para conquistá-las cometesses um só pecado, farias uma péssima troca. Que gozarás, no Inferno, de todos os prazeres que tiveres na Terra? Como te confortarão os tesouros do passado? Vê o que dizem nos abismos? Quid nobis profuit superbia? São contentes, como Acab, com uma vinha, são contentes com uma pobre Igreja, uma pobre Cátedra. São como os pobres hebreus (Deut. 28) que buscavam entre os romanos quem os quisesse levar como cativos. Assim fazem tantos Cristãos, que se recomendam ao Diabo mesmo quando esse não os procura. E o Demônio ri e deixa e os induz a inventar novas coisas para reavivar sua libido. Consomem-se em raiva sem ter em quem vingar-se; em avareza e não fecham um contrato que seja lucrativo; enlouquecem de ambição e não encontram um lugar que os satisfaça. Do que provam os pecadores? O amor à própria escravidão. E vuoi, che torni conto dannarsi per un peccare, il quale è sì sterile; ò pure fertile sì, ma di mera pena?

(febbrajo xxvi, Quid prodest, Lucas 21, 36)*

[A edição de Maná da Alma é pouco cuidada. A passagem, de fato, é Mateus 16, 26)]

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

cortesas son et essenhadas

A levitação religiosa – reportada na biografia de Segneri - não é um fenômeno incomum, nem específico do cristianismo, ainda que o século XVII tenha registrado um verdadeiro surto, inclusive nas Américas hispânicas. Nenhum santo, contudo, tornou-se mais célebre por suas levitações que São José de Cupertino (1603-1663). Capucinho, notório por suas escassas habilidades mentais, Cupertino tornou-se um mito por sua espetacular levitação pública em 4 de outubro de 1630. Seus êxtases religiosos rotineiros geralmente conduziam à levitação e apenas a ordem dos superiores encerrava o fenômeno. Chegou mesmo a voar diante de Urbano VIII.

Como também era típico do ambiente religioso do século XVII, tais êxtases, contudo, nunca foram bem vistos pela hierarquia religiosa e a Inquisição terminou levando Cupertino a longos anos de exílio em conventos. Alexandre VIII, contudo, lhe permitiu maior liberdade no fim da vida e o santo voltou a atrair multidões. Clemente XIII o canonizou em 1767, fato que levou M. de Voltaire a escrever um engraçadíssimo libelo, “A canonização de São Cucufino”. São José de Cupertino tornou-se o padroeiro dos pilotos de avião e dos astronautas, assim como dos que têm dificuldades para passar em concursos.

Há um livro notável de Pietro Manni. Il frate volante. San Giuseppe da Copertino nella cultura e nella memória (2003).





segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Alzato da terra quattro palmi circa, in atto di orare

Desse ponto em diante, a narrativa avança no terreno do miraculoso. Segneri promove a cura de febres, doenças e cegueiras, inclusive com o uso de relíquias de São Francisco Saverio, para que os méritos não fossem atribuídos a ele. Afinal, como declarava, estava ali para curar espíritos e não corpos. Em uma pregação perto de Santa Maria Maggiore a chuva torrencial não alcançou suas vestes, muitos viram sua face radiante e as feridas causadas pela flagelação mostravam uma cicatrização milagrosa de um dia para outro. Por último, foi visto levitando enquanto orava. Havia casos também de previsão do futuro e de revelação de segredos (inclusive, no curso de uma confissão, de um aborto secreto, pág 142). Massei, contudo, admite que a previsão da eleição do cardeal Ottoboni para o papado não era assim tão miraculosa.

Encerradas as missões, longos roteiros de pregação nas áreas rurais de Gênova a Bologna, recolhia-se em algum colégio da ordem para escrever. Nesse ponto, o papa Inocêncio XII então o requsita para ser pregador em Roma, no Palácio, no Colégio de Cardeais e na Prelatura. Segneri chorou e lamentou, mas foi a Roma no princípio da Quaresma de 1692, como determinava a disciplina. Tão privilegiado foi por Inocêncio com atenção e dádivas, que já se imaginava uma promoção.

Raguagglio (capítulos XXXII a XXXIX)