sábado, 30 de abril de 2011

Troncato però ormai tutto quel più

Concluída a narrativa de seu passamento, começa o registro de seus comentários pessoais, colhidos em conversas com seus discípulos e colegas. Sobre a reforma moral, dizia Segneri, é melhor começar de súbito e de forma integral. Melhoras graduais exigem lungo tempo, gran fatica e minor fruto. Trata-se de pedir a graça de Deus logo. Em outra carta, a um dos nossos, dizia Segneri: há que fazer a vontade de Deus e servi-lo. Il resto è mera bugia. Ele mesmo, por sinal, declarava ter dúvidas sobre a natureza de seu amor: se era pelo que Deus é ou pelo que Deus dá. Gostava de repetir que mal podia esperar para chegar ao Céu.

Não faltava a Segneri uma cordial bonomia. Tendo pedido a um padre que fechasse uma porta que deixara aberta, ouviu, em resposta, "se afrontarás tantas tempestades amanhã em suas missões, porque temes este vento hoje?". Responde Segneri: "hoje cuido eu desse assunto, amanhã, Deus cuidará". Ria dos perigos, como no desembarque em Gênova e na travessia dos rios. No curso de uma viagem entre Roma e Florença, acompanhado de Lorenzo Gualtieri, enviado do Grão Duque, sua carruagem cai por um ribanceira. Gualtieri começa a gritar por Jesus; Segneri apenas sorri e, de fato, nada aconteceu e ninguém perdeu a vida, homens ou cavalos. Contestado com a afirmação de que os outros temiam pois eram pecadores, retrucou: "Ah, filho, sou bem pior que tu, sou a escuma dos perversos, mas estávamos em viagem pela causa de Deus, não havia o que temer. Amemos a Deus sempre mais e nos voltemos a ele, porque no outro mundo, ó grande coisas! Ó grandes coisas!.

Nas missões, apesar de todas as tempestades e do mau tempo, sempre começava suas prédicas em campo aberto e chamava a todos à devoção. Não hesitava em denunciar concubinas de poderosos e escândalos, apesar de todos os riscos pessoais. Após condenar os Quietistas, passou a receber cartas com ofensas e ameaças e muitos o aconselharam a abandonar as missões, as estradas desertas e as pequenas cidades: esta é a causa de Deus, dizia, cabe a Deus defendê-la.

Raguagglio, XLV a XLIX

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ce fusese crescut sub pat la pension

A expressão de Segneri é direta e forte: o que não vale para a salvação da alma não vale nada. O secularismo moderno abandonou as formas tradicionais de crença, mas a busca da salvação avança de forma inédita. A indústria da auto-ajuda nos Estados Unidos, segundo McGee (Self-Help, Inc.: Makeover Culture in American Life, Oxford, 2005), ultrapassava, no início dos anos 2000, a cifra de 3 bilhões de dólares no seu faturamento anual. As projeções fixavam, para o final da década, um valor global de 11 bilhões de dólares apenas nos Estados Unidos. É curioso notar que este valor era bem próximo das vendas de anti-depressivos no país em 2008, resultado de cerca de 230 milhões de receitas, sendo de longe o medicamento mais consumido.

A salvação da alma, nos tempos modernos, vem com outro custo. O sucesso das técnicas e da literatura de auto-ajuda é o resultado e, em seguida, também a causa de uma singular diluição intelectual das terapias psicológicas herdadas do século XIX, sejam elas positivistas ou espiritualistas. Ao contrário das complexas teorias pseudocientíficas sobre a alma e das mitologias da psicologia moderna, a auto-ajuda contemporânea precisa ser agradável, fácil de entender e não pode exigir grandes sacrifícios privados.

A moralidade religiosa é intolerável para os homens contemporâneos, mas também a ciência não desperta o interesse imaginado. Na verdade, nem os autores das obras de auto-ajuda importam muito - basta a convicção de que, com boa vontade, a própria alma será salva.

Estima-se ainda que 80% dos consumidores de técnicas e literaturas de auto-ajuda são reincidentes. Voltam a adquirir o mesmo material, tendo funcionado ou não, para os objetivos fixados.




Pieter Bruegel. Cegos guiando cegos (1568).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Stulte, hac nocte animam tuam repetum a te

Considera, chi non haverebbe somamente invidiato quel famoso ricco Evangelico, il quale havea sortita ricolta sí copiosa, che ne pure sapea dove collocarla; possedeva già rendite in annos plurimos; haveva qualunque comodità mai volesse, di darsi all'ozio, di banchettare, di bere, di scapricciarsi? Quem não o diria beato? E, no entato, era infelicíssimo, pois não reconhecia os bens de Deus. Não dava a parte aos pobres, não O agredecia. Ó quantos ricos semelhos não existem no Mundo! Deus o chamou estulto, pois só pensava na vida presente, e, naquela mesma noite, os Anjos já estavam próximos. Considera a qualidade do castigo. Não o ameaçou com o Inferno, mas com sua falta do que mostrar aos Anjos que vinham. Mais temem, os mundanos, o mal parecer do que o Inferno. Dão mais contas do que têm, antes do que são. O que não vale para a salvação da alma, não vale nada. A chi toccheranno i tuoi Campi? di cuius erunt? Forse a chi si rida di te, mentre starai bestemiando la sua follia. Dunque una cosa sola è quella, che importa, pensare all'Anima.

(xvi marzo... Stulte, hac nocte animam ... Lucas 12.20)