quinta-feira, 4 de junho de 2009

mas suffri s'o non sai per que

É comum a afirmação de que "a ingratidão é o maior defeito". Relações familiares, por exemplo, nunca escapam dos dilemas da interação estratégica e a expressão "chantagem emocional" deve sempre ser levada a sério. Matando tempo em salas de aeroporto, na saída de escolas e em outros hiatos semelhantes, refleti que a expressão é justa e com razões derivadas da teoria dos jogos.

O problema da cooperação não é apenas o da sua emergência, mas sua sustentação continuada, por várias rodadas do mesmo jogo. O reforço psicológico (um aspecto contextual de aprendizado fundamental para a compreensão realista dos jogos em ambientes sociais, como reconhece Shubik) para o "tit" que se segue ao "tat" pode ser descrito, sem nenhum favor, como gratidão. Pode bem se descrita igualmente como um efeito residual de trocas (monetárias, emocionais, sexuais, etc) continuadas e bem sucedidas. A gratidão reduz, a longo prazo, o custo inicial da cooperação, pela difusão evolucionária da percepção de que o gesto de boa vontade terá uma resposta positiva.

Como escreveu Paolo, Jesus fez três gestos gratuitos à espera da cooperação. A ingratidão do cristão gera um típico efeito do dilema do prisioneiro: Deus perde uma alma, a alma perde o Paraíso.



(imagem: payoffs do dilema do prisioneiro, 2005)

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