segunda-feira, 29 de março de 2010

Singurul bine, singura'mi pace

Se a nota de Segneri em nada se afasta da literatura contemporânea de auto-ajuda, qual o objetivo técnico da edificação moderna? No que ele difere dos propósitos da edificação cristã?

Se a modernidade é prova do fracasso da prédica de Segneri, porque a auto-ajuda triunfará sobre seus adversários?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Dicebat ergo ad turbas

Considera, che pochi nel servizio Divino son quei, che con verità possano chiamarsi robusti. Trinta eram os fortes de Davi, mas os robustos não passavam de três. Como podes te dizer robusto quande cedes a qualquer dificuldade da vida espiritual. Considera como deves te governar para obter a robusteza do espírito: é como deves fazer para a robusteza do corpo - sanidade, sustento e exercício. É preciso manter a alma longe do pecado, bem alimentada de orações e exercício contínuo na virtude. Há que acumular vitórias cotidianas. Parece-te segura a Cidade que confia apenas nos seus muros e não ergue fortificações? É preciso aspirar sempre por mais. Se és paciente, sejas mais; se és humilde, sejas mais. Se nel esercizio delle virtù tu non pigli la mira altissima, sempre colpirai giù dal segno.

(marzo ii, Cogitationes robusti semper in abundantia, Provérbios 21,5)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Speranta mea din lume de morte precurma

Usam o que merecem, diziam os pagões sobre os cristãos que portavam uma imagem da cruz. Para um olhar externo, nada é mais distintivo da religião cristã do que o uso, como símbolo, de um instrumento de execução. Forcas, machados ou guilhotinhas são candidatos pouco prováveis a um imagninário piedoso. Evocam o sentimento do sombrio e do macabro e não devia ser pequeno, na Antiguidade, o espanto diante do desafio que representava portar o símbolo da cruz. Para usar a terminologia contemporânea, a cruz representava uma contra-cultura, deliberadamente desafiadora da ordem legal e do imaginário do mundo pagão. No mínimo, um sinal de desprezo pela punição mais degradante que o Estado poderia infligir.

O crucifixo na sua versão canônica, com o corpo de Jesus Cristo, fazendo referência a uma execução específica e não à ameaça geral que pairava sobre os primeiros cristãos no mundo romano, é bem mais tardio. Os primeiros exemplares, ainda rudimentos pintados, datam do século VI e exemplos similares aos modernos crucifixos são ainda mais tardios, datando dos séculos VIII e IX. Em certas regiões da Europa, só aparecem depois do ano 1000. É natural concluir que o crucifixo, como símbolo da ressurreição de Jesus, pertence ao mundo da Igreja triunfante e não mais ao mundo de uma comunidade de perseguidos que orgulhosamente desafiavam a lei de Roma.

A discussão sobre natureza exata do simbolismo do crucifixo, o único companheiro fiel do solitário condenado à morte, como descreveu Segneri, está longe ainda, dois mil anos depois, de se transformar em uma questão acadêmica. As polêmicas causadas pelo uso da cruz seguem vivas nas escolas, nos tribunais ou mesmo na indumentária de aeromoças. Roma, ou o Estado laico, triunfou novamente no Ocidente e a cruz voltou a ser motivo de escândalo.

Os símbolos religiosos são, em geral, questionados pelo Estado, na França, na Turquia ou na Suíça, mas lenços, minaretes, roupas e amuletos africanos são exóticos ou folclóricos demais para ameaçar a ordem laica do Ocidente. Não a Cruz, que desafia o monopólio da violência a custo conquistado pelo Estado nos últimos quinhentos anos.





Em janeiro de 2009, o reverendo Ewen Souter Igreja de São João em Broadbridge Heath, Sussex, Inglaterra, determinou a retirada de um crucifixo que estava "assustando crianças e desagradando fiéis". Esculpido por Edward Copnall em 1960, o crucifixo é feito de pó de carvão e resina. Alude, obviamente, ao sofrimento de outros judeus que, como Jesus, foram torturados e mortos por tiranos no século XX. A alegação é que os cristãos preferem ver a cruz vazia, de onde saiu o ressuscitado, que a cruz da Paixão. Uma parte da imprensa inglesa foi contra a retirada: "Se Maria e João contemplaram Jesus na Cruz, deveríamos estar prontos a fazer o mesmo", comentou um blogueiro.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Et accepto pane gratias egit

Considera, che queste parole dovresti havere sempre in bocca considerandoti ormai vicino alla morte, giacche furono appunto parole dette dal Salmista in persona di chi stava già moribondo (Salmo 21,12). Grande tribulação é a Morte: perder as coisas, os entes queridos, as posições nesse mundo, as faculdades. Grande tribulação pelos sofrimentos que impõe e pela dor da consciência. Não vês como correm os anos? Corrige os erros enquanto tens tempo. Considera que a Morte é tribulação solitária: te abandonarão os amigos, os médicos e mesmo os religiosos e te sobrará apenas um crucifixo. Pensa em tua alma, calca sob os pés tantos respeitos humanos, não sejas servo dos ingratos. Se pur per huomo non si deve intender in questo luogo il demonio stesso, chiamato molte volte ancor'egli nelle scriture con questo nome di huomo: Inimicos homo, malus homo, mendax homo, non perchè punto tu n'habbi in morte a sperare di umanità, mas perchè è stato il soggiogatore dell'huomo; como Scipione fu chiamato Africano dal suo solene soggiogamento dell'Africa.

(marzo i,  Salmo 22, 12, Deus meus es tu... )