sexta-feira, 29 de maio de 2009

sa vines, ma douza piuzella

A invectiva de Paolo contra a resistência das famílias que se recusavam a permitir que seus "melhores filhos" se dedicassem à vocação religiosa, soa curiosa e familiar. Curiosa porque as famílias nobres italianas faziam questão de dedicar ao menos um dos filhos homens à carreira eclesiástica por motivos nada nobres, prática não incomum em outros países latinos, inclusive o Brasil. Familiar porque o assunto é debatido pela Igreja Católica ainda hoje. Alguns números podem iluminar o efeito e a intenção da advertência algo ameaçadora de Paolo.

A Universidade de Georgetown mantém um Centro para a Pesquisa Aplicada do Apostolado (CARA), responsável pela publicação de análises e estatísticas sobre o catolicismo nos Estados Unidos e em outros países desde 1995. Poucos dados bastam para qualificar visões correntes. O número de padres, frades e irmãs nos Estados Unidos, por exemplo, não sofrem um declínio secular, mas um ciclo. Em 1945, havia 12.413 padres; o número subiu para 21.781 em 1965 e permaneceu nesse patamar até 1985 (20.448). A queda está concentrada entre 1985 e 2000, quando o número de padres caiu para 15.143. O pico e a queda, contudo, são muito mais visíveis entre as mulheres religiosas: o número de irmãs passa de 122 mil em 1945 a quase 174 mil em 1965, mas desde então a queda é contínua, até chegar a pouco menos de 80 mil no ano 2000. É natural constatar que entre 1945 e 1985 a condição de padre não era problemática para homens, mas se tornou para o caso das mulheres. Note-se, contudo, que apesar da queda, o número de irmãs é muito maior do que o de frades ou padres.

Aliás, a queda no número de padres nos Estados Unidos é sensivelmente menor do que a queda nas profissões contemplativas. Esses números explicam facilmente a pressão para o ordenamento de mulheres. O exercício do ministério continua sendo atrativo para pessoas com vocação religiosa. Outro fato notável: a queda no número de matrículas em seminários é profunda entre 1965 e 1980, mas muito menos significativa desde então. Entre 1990 e 2000, há praticamente estabilidade.

Por fim, o relatório CARA não apresenta as datas dessa pesquisa de opinião, mas, supondo-a do início do século XXI, é supreendente notar que 17% dos homens católicos já consideraram seguir uma vocação religiosa, assim como 15% das mulheres. Nada menos que 10% encorajaram um vocação religiosa e 32% encorajariam seus filhos a uma carreira religiosa. Para o conjunto demográfico que soma mais de 60 milhões de americanos, são percentuais relevantes.

O protesto de Paolo pode ser entendido muito mais facilmente como um aspecto pragmático da atividade apostólica: as vocações estão lá, precisam ser despertadas e as famílias conquistadas.

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