tag:blogger.com,1999:blog-20049427554908925932024-03-13T15:52:57.311-07:00Maná da AlmaLuciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.comBlogger226125tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-18639245228653840152013-04-28T16:04:00.004-07:002013-04-29T08:02:27.966-07:00La care cum s'aude destul ai conlucrat<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDPrMMiHz62cIuqROX3uu7hIovNI-o4RkGdqnFLl03DyLx3GnESyRebExIK4QEm65E3fYS8kxzQlytAKHHtYyluHSLcV3O4Zx0eNcsDGdVgn9_sMhVdmg7FndXbb3bL5Ob30NpDLxD1Nw/s1600/gordon-gekko.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDPrMMiHz62cIuqROX3uu7hIovNI-o4RkGdqnFLl03DyLx3GnESyRebExIK4QEm65E3fYS8kxzQlytAKHHtYyluHSLcV3O4Zx0eNcsDGdVgn9_sMhVdmg7FndXbb3bL5Ob30NpDLxD1Nw/s1600/gordon-gekko.jpg" /></a></div>
<div>
<br /></div>
Nos anos triunfantes das políticas liberais, o discurso de Gordon Gekko em uma assembléia de acionistas, no filme <i>Wall Street</i> (1987), tornou-se um dos símbolos daquilo que não se queria então reconhecer como a ordem moral dos tempos: "a cobiça é boa". A sugestão original, naturalmente, é pouco posterior a Segneri, feita por iluministas escoceses no século XVIII.<br />
<br />
O curioso, entretanto, é que a aberta confissão de cobiça não resistiu, no cinema ou na arena pública, nem a um quarto de século. Dois anos depois do início da primeira crise financeira do milênio, em 2010, o mesmo personagem retorna à cena para combater o demônio da cobiça no sucessor "O Dinheiro nunca Dorme".<br />
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKuctVDmERHYwzFWC06AfP9i0L6yIFChdmIFZc-GLjRQ0YEckitAPKzreDTyq8vzw5biYleb_2T2OE051pKO8o8rupLyYW-KHkdeEsRejK-GcoMn2KEW3rPPx18nTq8Y69r-ryFsJsjTI/s1600/wall_street_money_never_sleeps_ver2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKuctVDmERHYwzFWC06AfP9i0L6yIFChdmIFZc-GLjRQ0YEckitAPKzreDTyq8vzw5biYleb_2T2OE051pKO8o8rupLyYW-KHkdeEsRejK-GcoMn2KEW3rPPx18nTq8Y69r-ryFsJsjTI/s320/wall_street_money_never_sleeps_ver2.jpg" width="216" /></a></div>
<div>
<br />
Nesses mesmos anos, por sinal, prosperavam as ideias sobre a responsabilidade social das empresas, frequentemente usadas como instrumento de protecionismo, mas nem por isso menos sintomáticas do fato mencionado por Segneri: não reconheces a cobiça, mesmo escondida sobre a terra?</div>
Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-83323386198753475152013-04-27T18:24:00.000-07:002013-04-27T18:24:16.560-07:00Radix omnium malorum<br />
Considera, che in diverso modo è principio dei frutti il tronco, in diverso n’è la radice. Quanti frutti dà la radice, tanti dà ‘l tronco. Contudo, se a soberba gera os males, é o interesse que a nutre. Se não houvesse o interesse, como poderia tanto a soberba? Que pode um soberbo pobre. É o interesse que leva à impiedade, que endurece o coração, que produz a violência, a falácia e a fraude. O interesse pode mais que o medo, pois vai convencendo a si mesmo que a outra vida, seus prêmios e seus castigos, é irreal.<br />
<br />
O interesse, sendo raiz, é mais difícil de extirpar. O amor ao dinheiro é quase invencível. A soberba tem muitos objetos, o interesse tem apenas um. Ele perverte o intelecto. Contempla os amantes do dinheiro, vê como vivem. Dinheiro é labuta e sacrifício. Dê logo o dinheiro a Deus e livre-se desse peso. Doe sempre, desapegue-se, pois o interesse, como a raiz, está sempre lá, invisível. Non saranno in te, per favor Divino, quei frutti così pestiferi che l’interesse produce, perch’egli hà poco pascolo da nutrirsi, ma credi tu, che non vi sia la radice?<br />
<br />
(<i>marzo xxx…</i> Radix omnium malorum ets cupiditas.. <i>I Timóteo.6.10</i>)Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-31762441624152681932013-04-12T09:32:00.002-07:002013-04-12T09:35:22.843-07:00A copilei dulce frunte cu vii umbre coloraNenhuma ideia moderna parece mais hostil às religiões tradicionais do que a autonomia individual. Nascida da reforma protestante, teve logo uma tradução política e, posteriormente, existencial. Segneri não foi o primeiro a notar que a autonomia individual pode levar à inconstância, à frivolidade e ao sofrimento pessoal, mas registra corretamente que a única saída possível para a autonomia individual é aceitar, na graduação mais conveniente, uma orientação espiritual externa. Boa parte dos seres humanos demanda um guia.<br />
<br />
Mesmo essa ponderação, contudo, soa ofensiva a ouvidos contemporâneos. Quem aceitaria, publicamente, seguir a orientação de outrem? A submissão intelectual ou volitiva tem inegável valência negativa, apesar da proliferação de literatura de auto-ajuda, inclusive financeira.<br />
<br />
O mais curioso é que, no plano espiritual, a perda de prestígio das formas tradicionais de liderança foi logo compensada pela emergência de outras modalidades, talvez mais coloridas. Nenhuma delas é mais significativa no Ocidente do que o culto do guru, importado, a partir dos anos 1960, das religiões indianas. As causas alegadas do fenômeno vão desde o multiculturalismo ao declínio dos valores ocidentais, mas sua manifestação não perde o sabor paradoxal. Um indivíduo ocidental a quem repugnaria o rito da confissão católica pode adotar, sem maiores escrúpulos, rituais e mitologias radicalmente estrangeiros. Sob uma nova identidade, talvez, o guia espiritual pareça menos opressivo.<br />
<br />
Na verdade, a busca pelos mais variados tipos de guia espiritual vem tornando-se mais intensa sob o reino da autonomia individual, um fato que não surpreenderia Segneri. Os conteúdos variam, como mostra o recente <i>New Religions in a Post Modern World</i> (2002), de Render Kranenborg e Mikael Rothstein, de maneiras quase bizarras, mas o desejo de uma orientação espiritual que alivie o peso da autonomia individual permanece.Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-43038858038362634112012-07-14T17:40:00.000-07:002012-07-14T17:45:58.731-07:00Confundetur IsraelConsidera, che il fine principalissimo per cui tanta gente, ancora spirituale, e sì inclinata a far la sua volontà, è perche spera in essa di trovar quiete. E ainda assim, se vai ao oposto, pois se existe algo que te pode meter em confusão é seguir tua vontade. Sempre duvidarás se é melhor fazer deste ou daquele modo, se tratar com o próximo ou viver retirado, se dormir ou velar, se comer ou jejuar.<br />
<br />
Se queres encontrar a paz, deve submeter-te a um diretor que te governe. Vê como fazem os litigantes que buscam um Árbitro. A carne e o espírito são litigantes terríveis! Mesmo Israel se confundiu, mesmo Paulo. Os íntimos de Deus se deixaram governar por outros. Considera a felicidade de quem se fez religioso e se consagrou a uma obediência perpétua. Não é esta, uma quieta maravilhosa? Habbi però una somma fede al valore dell'ubbidienza, e tien per indubitato, che chiunque si vorrà governare da se, resterà confuso: <i>confundetur Israel in voluntate sua. </i>Chi non resterà mai confuso? Sol chi ubbidisca, <i>si audierint, et observaverint, complebunt dies suos in bono et annos suos in gloria. </i>Iob 36.11. <i>complebunt dies suos in bono</i>, perche viveranno quietissimi, <i>et complebunt annos suo in gloria, </i>perche morrano gloriosi.<br />
<br />
(<i>marzo xxix</i>... Confudetur Israel in voluntate sua... <i>Oséias, 10.6</i>).Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-1238386524773446862012-05-22T13:21:00.000-07:002012-07-14T17:41:08.460-07:00Acopere totul, crede totul, nădăjduieşte totul, sufere totulA bela figura retórica empregada por Segneri para descrever a paz alcançada pelos justos, sustentada por negativas, é uma referência clara à celebre passagem da primeira Epístola aos Coríntios (13, 4), quando Paulo define a natureza do amor (ágape):<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>"4.O amor é
sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se
ensoberbece,<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>5 não
se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se
irrita, não suspeita mal;<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>6 não
se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>7 tudo
sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
Tal encômio do amor, contudo, não foi uma invenção do apóstolo: representa uma figura literária conhecida na cultura grega. Tem um igualmente célebre antecessor, exposto nas seções 203c e ss do diálogo platônico "O Banquete". Como é sabido, o amor (eros) é assim descrito:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>"E por ser
filho o Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>condição em
que ele ficou. Primeiramente ele é sempre pobre, e <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>longe está
de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>é duro, seco,
descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>deitando-se
ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>tem a
natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão. <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>Segundo o
pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>e corajoso,
decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>maquinações,
ávido de sabedoria e cheio ele recursos, a <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>filosofar
por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>imortal é a
sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>germina e
vive, quando enriquece; ora morre e de novo <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>ressuscita,
graças à natureza do pai; e o que consegue sempre <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>lhe escapa,
de modo que nem empobrece o Amor nem <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>enriquece, assim
como também está no meio da sabedoria e da <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><i>ignorância."</i><o:p></o:p></span></div>
<br />Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-28941205528624004902012-05-01T17:28:00.004-07:002012-05-01T17:37:15.423-07:00Sedebit populis meusConsidera, che questo beato popolo, del quale quì si ragiona, non può già essere un popolo, qual è quello degl'imperfetti, mas uno assai spirituale, assai santo, populus peculiaris, perche già si presuppone, che non habbia più di bisogno di stare tutto dì combattendo affanosamente, ma che già goda riposo, mentre incontanente si dice, che sederà: <i>Sedebitis populus meus</i>. Quem são os que alcançam esta sorte? Poucos são - os que são senhores do seu querer. Tu entendes a rara felicidade de quem combateu por longo tempo e alcança o domínio de si mesmo? A paz não é outra coisa que a tranquilidade em ordem: não inveja, não presume, não litiga, não persegue, não ambiciona e sabe viver em paz mesmo com os que são amantes da guerra. É ordenado com Deus, porque em tudo se submete a Ele.<br />
<br />
Ó tu, beato, se soubesses por uma vez deixar-te invadir por tão digna paz. Não vês tu como é bela?<br />
<br />
O Justo, após haver repousado na paz, na morte descansa no Tabernáculo da Confiança. Nos pagos do Senhor. Como a Pomba, que não sai a combater o Falcão no ar aberto, mas retira-se aos bosques escuros. Saciado na memória, saciado na vontade, plena de Deus, saciado no exercício da virtude, saciado no bem, saciado pela total saciedade que possa haver em todos os seus sentidos. Saciado no gosto do celeste maná. E finalmente saciado pela fonte da saciedade que é Deus, pois Ele não tem necessidade de nada. Procura, pois, ser parte desse Povo. Se vuoi requie dopo la morte, convien che alla requie preceda la fatica, si che ti spendi per Dio, ti strugghi per Dio, e ti curi poco di umani sollevamenti infino a tanto, che <i>dicat tibi Spiritus</i>, non il Corpo, <i>ut requiescas à laboribus tuis</i>. Apoc.14.13.<br />
<br />
(<i>marzo xxviii</i>, Sedebit populus meus.... <i>Is. 32.18</i>)Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-82314170352519451382012-02-26T17:59:00.000-08:002012-05-01T17:37:01.638-07:00El singur sa'mi stea fata in acele minuteO caráter espiritual da concentração da mente nas mínimas ações que cada um pratica em sua vida cotidiana ou em seu ofício cotidiano é hoje uma figura retórica comum. Ela se espalha pelas literaturas de auto-ajuda modernas, mas avança também sobre as descrições populares das religiões orientais. Em Segneri, naturalmente, o sentido é bem mais preciso: esta concentração é necessária para realizar a intenção pura e para invocar corretamente a ajuda divina. De forma sutil, ele insinua que cada gesto pode se transformar em um ritual.<br />
<br />
O efeito terapêutico e salvador desta concentração pode revelar-se em ocasiões surpreendentes. Em sua obra pungente sobre o Gulag soviético, Anne Applebaum descreve como a capacidade pessoal de isolar-se, por meio de tarefas comuns, do horror do trabalho forçado e da injustiça contribuía para a sobrevivência de muitos prisioneiros.<br />
<br />
Escrever poesia, fabricar colheres ou agulhas para os que precisavam, meramente dedicar-se a ouvir um amigo, lavar ritualmente as próprias roupas, manter a rotina de tomar banho foram recursos empregados para, de alguma maneira, preservar a dignidade interior (<i>Gulag. A History</i>, 2003, págs 346-347). Mesmo uma celebração mínima do ritual da Páscoa Ortodoxa atraía crentes e ateus.<br />
<br />
Na mera atenção ao que fazemos, argumenta Segneri, está a salvação.<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpk9ur9Xov5xa6514FZbjVEJTsGeAdL1iJ-G5OumA2n6j72RAaAEJaQ2HuaiabRPz-Tp79JIBG5lBUIuFCp5drbfb_TMksDJL2GOl6N6MgwiGJwpAHrtYM8UkHu0HyoaslEJyIMzdaPE4/s1600/gulag.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpk9ur9Xov5xa6514FZbjVEJTsGeAdL1iJ-G5OumA2n6j72RAaAEJaQ2HuaiabRPz-Tp79JIBG5lBUIuFCp5drbfb_TMksDJL2GOl6N6MgwiGJwpAHrtYM8UkHu0HyoaslEJyIMzdaPE4/s400/gulag.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-75565337367653618152012-02-18T16:17:00.001-08:002012-02-23T05:23:43.885-08:00Omnibus operis tuis<br />
<div class="MsoNormal">
Considera, che qui alla fine si hà di ridurre tutta la tua
perfezione: a far le azioni, che sono proprio di quella comunità, di quell
carico, di quell grado, in cui Dio ti hà posto, ma a farle eccelentemente. <span lang="PT-BR">Imaginas que ações grandiosas te
darão a santidade? Quem te disse? A tua soberba? Deus pede as obras de teu
ofício. A santidade não consiste em fazer obras excelentes, mas em fazê-las de
forma excelente. Ela não se busca nas obras, mas no operante. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">Quem faz mais
proezas que as damas chamadas fortes? Como Débora, como Judite. Se bem
ponderas, todas as suas bravezas terminaram em bem fiar, em prover-se de lã e
de linho, em não deixar que, de noite, a lâmpada se apague. Cumpre fazer as obras
de modo interno, perfeito, com intenção reta, endereçando tudo a Deus, ao maior
gosto de Deus, à maior glória de Deus. Não faça como os navegantes que não
cuidam da viagem de seu barco, que apenas cantam e gastam seu tempo. Não sabes
quão benévolo é o Senhor? Faz o contrário dos homens: paga pela vontade como
paga pela obra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT-BR">E pede
sempre ajuda a Deus. Ele não se molesta com este freqüente socorro. Não sabes
que ele é um amante e vai perdidamente por ti? Isto é próprio de um grande
amante: proclamar ter parte em toda a obra do amado, meter-se em tudo,
ingerir-se em tudo, tomar a si o assunto do amado. Se queres dar gosto a Ele,
que tanto te ama, chama-o em toda a obra que fazes. E cosi quanto più almeno ti
sai possibile: <i>In operibuis tuis pracellens esto</i>: facendole nell’esterno com
esattezza, nell’interno com eminenza di carità, superiore a quella, che si usa
comumente, già che questo appunto à praecellere, è spiccare sobra la turba.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="ES-AR">(<i>marzo
xxvii</i>... In omnibus operibus tuis... <i>Eclesiátisco 33. 23</i>)<o:p></o:p></span><br />
<span lang="ES-AR"><br /></span><br />
<span lang="ES-AR"><br /></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYSVJvad_yX9vc6cYpiNRwZUkEx4QlS27lGnD91rOmCoXnmxTWHvjIzCBsW0hvN3_6tTFBxAgNENSNtdFWrLJNG5I6arEQyR9gyAojrGQIUmiMz3SmdA1Shlh4RsKjxY_Zj8tpHM8Qi1Q/s1600/segneri.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYSVJvad_yX9vc6cYpiNRwZUkEx4QlS27lGnD91rOmCoXnmxTWHvjIzCBsW0hvN3_6tTFBxAgNENSNtdFWrLJNG5I6arEQyR9gyAojrGQIUmiMz3SmdA1Shlh4RsKjxY_Zj8tpHM8Qi1Q/s1600/segneri.gif" /></a></div>
<span lang="ES-AR"><br /></span></div>Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-86080963671575162782012-02-18T16:14:00.000-08:002012-02-18T16:14:36.430-08:00Se poi il divoto Lettore si dolesseOs capítulos finais do Ragguaglio contêm algumas narrativas adicionais das penitências a que Segneri se submetia, entre elas ser açoitado enquanto amarrado a uma coluna, como Jesus, e queimado com a cera quente de velas. Era difícil, por vezes, arranjar quem o ajudasse em tais extremos.<br />
<br />
O autor se pergunta, ao final, porque uma pessoa com tais méritos intelectuais e espirituais permaneceu praticamente desconhecida em seu tempo. É porque sempre os manteve em segredo enquanto viveu.<br />
<br />
<em>Ragguaglio, </em>capítulos LXVI a LXVIII (fine).Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-16346685800473442012-01-29T18:24:00.003-08:002012-02-13T16:04:03.666-08:00Catand in viata pacea, si 'n pace multumireaOs paradoxos implicitos no julgamento moral de atos individuais encontram uma exposição canônica na Sura 18, A Gruta, quando Moisés interroga um dos Servos do Senhor:<br />
<br />
<em>"E encontraram-se com um dos Nossos servos, que havíamos agraciado com a Nossa misericórdia e iluminado com a Nossa ciência.</em><br />
<em>E Moisés lhe disse: Posso seguir-te, para que me ensines a verdade que te foi revelada? </em><br />
<em>Respondeu-lhe: Tu não serias capaz de ser paciente para estares comigo.</em><br />
<em>Como poderias ser paciente em relação ao que não compreendes? </em><br />
<em>Moisés disse: Se Deus quiser, achar-me-á paciente e não desobedecerei às tuas ordens. </em><br />
<em>Respondeu-lhe: Então segue-me e não me perguntes nada, até que eu te faça menção disso. </em><br />
<em>Então, ambos se puseram a andar, até embarcarem em um barco, que o desconhecido perfurou. Moisés lhe disse: perfuraste-o para afogar seus ocupantes? Sem dúvida que cometeste um ato insólito! </em><br />
<em>Retrucou-lhe: Não te disse que és demasiado impaciente para estares comigo? </em><br />
<em>Disse-lhe: Desculpa-me por me ter esquecido, mas não me imponhas uma condição demasiado difícil. </em><br />
<em>E ambos se puseram a andar, até que encontraram um jovem, o qual (o companheiro de Moisés) matou. Disse-lhe então Moisés: Acabas de matar um inocente, sem que tenha causado morte a ninguém! Eis que cometeste uma ação inusitada. </em><br />
<em>Retrucou-lhe: Não te disse que não poderás ser paciente comigo? </em><br />
<em>Moisés lhe disse: Se da próxima vez voltar a perguntar algo, então não permitas que te acompanhe, e me desculpe. </em><br />
<em>E ambos se puseram a andar, até que chegaram a uma cidade, onde pediram pousada aos seus moradores, os quais se negaram a hospedá-los. Nela, acharam um muro que estava a ponto de desmoronar e o desconhecido o restaurou. Moisés lhe disse então: Se quisesses, poderia exigir, recompensa por isso. </em><br />
<em>Disse-lhe: Aqui nós nos separamos; porém, antes, inteirar-te-ei da interpretação, porque tu és demasiado impaciente para isso: </em><br />
<em>Quanto ao barco, pertencia aos pobres pescadores do mar e achamos por bem avariá-lo, porque atrás dele vinha um rei que se apossava, pela força, de todas as embarcações.</em><br />
<em>Quanto ao jovem, seus pais eram fiéis e temíamos que os induzisse à transgressão e à incredulidade. </em><br />
<em>Quisemos que o seu Senhor os agraciasse, em troca, com outro puro e mais afetuoso. </em><br />
<em>E quanto ao muro, pertencia a dois jovens órfãos da cidade, debaixo do qual havia um tesouro seu. Seu pai era virtuoso e teu Senhor tencionou que alcançassem a puberdade, para que pudessem tirar o seu tesouro. Isso é do beneplácito de teu Senhor. Não o fiz por minha própria vontade. Eis a explicação daquilo em relação ao qual não foste paciente."</em> (Sura 18, A Gruta, 65-82)<br />
<br />
O texto do Corão não afirma diretamente quem seja o "nosso servo" mencionado no verso 65, mas os comentários não têm dúvida em identificá-lo com Al Khidr, o verde, uma figura espiritual do mundo pré-islâmico, um mensageiro de Deus, dotado de juventude eterna, incorporado posteriormente à tradição.(<a href="http://khidr.org/">http://khidr.org/</a>).<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_58TFVXDr0WVDFJW1uYyRbh2LMxb4diM_INO1CuFJtw_vaesIECXpIXR4v5A8UnpQF5mTMBDGYMaExvEcnuwFyhapM5GWi6EVtOf93s4RGfE3XRH1F1e_IF8agEgiD9qGbMjcfb2xK40/s1600/khidrborder.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400px" sda="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_58TFVXDr0WVDFJW1uYyRbh2LMxb4diM_INO1CuFJtw_vaesIECXpIXR4v5A8UnpQF5mTMBDGYMaExvEcnuwFyhapM5GWi6EVtOf93s4RGfE3XRH1F1e_IF8agEgiD9qGbMjcfb2xK40/s400/khidrborder.jpg" width="285px" /></a></div>Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-13921561881077575942012-01-29T18:22:00.002-08:002012-02-12T06:46:55.684-08:00Satul de mari nimicuri ce nu dau fericireaComentário breve e cortante de Segneri. Os estudos sociológicos mostraram há décadas que os elementos fundamentais que constituem nosso destino, nossa língua, nossa família, nossa posição social e mesmo nossa saúde, são dados. Não os escolhemos, nem os conquistamos. É rara uma história de sucesso ou de fracasso que seja realmente pessoal em sua última raiz. A questão é o que você faz com o que lhe é dado.<br />
<br />
Nesse ponto, Segneri toma parte em um problema tão paradoxal quando o problema do Mal: o problema do Bem. O bem que fazemos é realmente o bem? Se nossa existência é parte de uma cadeia incontrolável de eventos, tal como a representa o pensamento secular, não há como saber se o bem que fazemos hoje não será mal amanhã. Os atos humanos fazem parte de uma série infinita, cuja soma é desconhecida.<br />
<br />
Segneri afirma que o Bem só pode estar baseado na Graça. Apenas Deus tem a ciência necessária das causas e dos eventos para definir o que é o Bem. O resto, fazemos no escuro, apenas com o melhor das intenções.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3xcV21vPWZlYxrmjoNq_lcI_ccUI699KusKdPX56pmxcIxkBtoI_YYa3Gq3a8f1pH84zAkaqw3DzbppGlMyQ5YoUmod5octGMMxdQVyL5E6mpOFMofN7su3GEwd8v7ldD3RQt6xSF1tE/s1600/FMOb090.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="365px" sda="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3xcV21vPWZlYxrmjoNq_lcI_ccUI699KusKdPX56pmxcIxkBtoI_YYa3Gq3a8f1pH84zAkaqw3DzbppGlMyQ5YoUmod5octGMMxdQVyL5E6mpOFMofN7su3GEwd8v7ldD3RQt6xSF1tE/s400/FMOb090.jpg" width="400px" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><em>Quoy qu’en tout temps l’aumosne soit utile </em></div><div style="text-align: center;"><em>Aux souffreteux, point ne faut de trompette </em></div><div style="text-align: center;"><em>A l’annoncer, comme dit l’Evangile. </em></div><div style="text-align: center;"><em>La charité de coeur vraye & parfaicte</em></div><div style="text-align: center;"><em>Ne veut tesmoins de son oeuvre bien faicte. </em></div><div style="text-align: center;"><em>Car il suffit que Dieu bien apperçoit, </em></div><div style="text-align: center;"><em>Que l’indigent de ton bien a disette. </em></div><div style="text-align: center;"><em>Le publiant son salaire reçoit.</em></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Georgette de Montenay. <em>Emblemas Cristãos</em> (1584). </div>Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-77074902108804554252012-01-29T18:20:00.001-08:002012-02-09T14:16:54.287-08:00cuius consummation in combustionemConsidera la differenza terribile, la qual passa fra Terra, e Terra; ambedue ricevono le stesse grazie dal Cielo, ma non ambedue corrispondono al modo stesso, e cosí una é benedetta, una reproba. O mesmo acontece com duas almas, ambas beneficiadas, mas não do mesmo modo gratas. Examina as duas, não há meio termo.<br />
<br />
Nenhuma terra pode produzir sem água; assim é a alma humana. Não basta a vontade para fazer o bem; precisa da Graça. O Céu te envia muitos tipos de água: a inspiração interior, pluvia in vellus, as prédicas, os conselhos, os confortos, as correções, Tanto são elas abundantes. É ele que move a língua do predicador, do pároco, do confessor. E como hás reagido? Que bem hás feito? Se apenas espinhos produzes: que grande suplício te espera. <br />
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Considera como se fala desta Terra: a reprovação, a condenação e a punição. A pena para a terra fértil de ervas daninhas é o fogo. Là dove la ingrata lo muove a sospendere il socorso a tutti e a far che già non piovano sopra lei più acque, ma fimme.<br />
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(<em>marzo xxvi</em>... Terra saepe venienten super se... <em>Hebreus. 6. 7</em>)Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-88536383316937963962011-12-31T14:11:00.001-08:002012-01-01T14:46:46.276-08:00Oh che vergogna sara mai la miaNanti continua examinando em detalhe o comportamento de Segneri diante da consciência aguda de ser um pecador e das dúvidas sobre sua salvação. As penitências mais drásticas podem surpreender um leitor moderno, mas a narrativa é equilibrada e realista. Segneri estende-se, por exemplo, pelo que poderia ser descrito como fantasias de martírio, como o desejo de ser raptado e aprisionado por bandoleiros (um fato ordinário na Itália de então) ou ser capturado pelos turcos e feito escravo. <br />
<br />
As menções aos cilícios e às flagelações rotineiras são compensadas pelo reconhecimento de que dormia as seis horas regulares e não tinha condições de manter um jejum prolongado. Certa vez, durante uma missão, deixou de comer e teve febre. Depois do episódio, manteve a escala regular de refeições, abstendo-se apenas de "pratos mais saborosos". Da mesma maneira, usava uma roupa rude, feita de pelo de cabra, quando em missões ou no seu trabalho diário da Ordem, mas quando foi forçado a viver em Roma, o calor do verão o levou a mudar sua vestimento. O hábito simples que usava, sem maior proteção, fazia-o padecer no inverno. Ele mesmo reconhecia sua sensibilidade ao frio.<br />
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Após seu falecimento, encontraram uma corrente de anéis de ferro aguçados com trinta e cinco palmos: com ela envolvia praticamente todo o seu corpo.<br />
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<em>Raguagglio</em>, capítulos LXII a LXV.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-WJSHjA2itmM/TwDiMGLQ_6I/AAAAAAAAA2E/qCYw26RgMUg/s1600/ciliciosi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256px" rea="true" src="http://2.bp.blogspot.com/-WJSHjA2itmM/TwDiMGLQ_6I/AAAAAAAAA2E/qCYw26RgMUg/s400/ciliciosi.jpg" width="400px" /></a></div><div align="center">Cilício italiano do século XIX</div>Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-66245095299996933922011-12-31T14:10:00.001-08:002012-01-09T14:52:13.199-08:00Ca fantome de mari secoli pe eroi loru jelescNão se pode negar a Segneri um fino sentido de ironia, diretamente ligada à sua longa observação dos seres humanos. O amor de Deus, por exemplo, expresso na Encarnação, imediatamente põe em questão o amor dos Homens. Amar a Deus ou apreciar o amor de Deus pode ser problemático para muitos, mas esses mesmos muitos amam com facilidade um cavalo ou um cachorro. Ou um plátano.<br />
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O amor de Deus também revela uma estranha troca: que Deus tem a ganhar com o amor pelos Homens? Doar uma jóia, como ele escreve, não diminui a jóia; mas trocá-la por um pedaço de pão certamente a avilta. Deus, no entando, trocou seu Filho pelas almas dos Homens.<br />
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Como é possível entender o amor de Deus? Apenas os santos, no Paraíso, o compreendem, diz Segneri.Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-48265337762503913992011-12-23T16:08:00.000-08:002011-12-23T16:08:29.638-08:00Sic Deus dilexit MundunConsidera attentamente l'altezza somma di questa sentenza, la quale uscita dalla bocca di Cristo, contiene in se più miracoli, che parole. Que Deus ame a si mesmo, não é de espantar, mas que ame algo fora de si é estupendíssimo, tanto mais quanto se considera quanto de bom há fora de si mesmo. Mesmo as coisas que, em si estão mortas, em Deus estão vivas. Ele pode iluminar sem o Sol, pode refrigerar sem a água. Em si, tem todas as perfeições. Que grande prodígio é que ame algo fora de si! E ama o gênero humano! Muitos amam coisas estranhas: pássaros, cães, cavalos. Houve um que se enamorou de um tronco de plátano. Mesmo que isso acarretasse alguma servidão, algum benefício colhiam. Mas Deus, que benefício pode colher de seu amor? E amou o Mundo, a todos; não a alguns. E também não ama, mas amou, desde sempre, desde a eternidade. E deu seu Filho, que era Deus. Não como os homens. Um Filho unigênito. E deu. Uma jóia rica pode ser doada a um personagem vil sem aviltá-la; mas não se pode, sem aviltá-la, dar em troca de nada ou por chumbo ou um pedaço de pão. E Deus deu seu Filho em troca da alma dos Homens. É um amor compreendido apenas pelos Santos, que já estão no Céu. Che son le quattro dimensioni medesime, considerate da noi nell'amor Divino, conforme il lume somministratoci da queste gran parole di Cristo: <em>Sic Deus dilexit Mundum, ut filium suum unigenitum daret</em>, che ben potrai meditare per tutta la tu vita con perpetuo pascolo.<br />
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(<em>marzo xxv ... </em>Sic Deus dilexit.... <em>João, 3, 16).</em>Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-74193912193088948342011-11-30T16:55:00.000-08:002011-11-30T16:55:19.880-08:00Fii vostri vor ascunde a lor frunte in terinaSobre Romanos 8.17, o trecho comentado por Segneri no século XVII, escreveu Karl Barth no século XX:<br />
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<em>"Nossa humana presente existência - ela mesma não eterna, mas trazendo em si a eternidade não nascida - é encoberta pelo sofrimento, como um manto escuro, por uma espada desembainhada, por uma parede alta. Em si mesma, nossa vida é contestável; não há nela repouso, pois, sendo finita, é definida e constituída pela ambiguidade. Nossas experiências das limitações temporais de nossa existência, do estreito vazio de nossos poderes, das grandes e pequenas tribulações que, como fragmentos da Terra, devemos suportar em dor, são apenas sombras de nossa finitude. O que cedo ou tarde encontraremos como barreira final é a Dor em nossa dor. Não devemos permanecer em ignorância que a este ponto Deus dirige Sua questão a nós e que para ele também Ele prepara a Sua resposta. No Espírito, o segredo de Deus não pode ser escondido. No Espírito, podemos perceber o sentido de nossa vida, manifestado como sofrimento. No Espírito, sofrimento, suportado e aceito, pode se tornar nosso avanço em direção à glória de Deus. Esta revelação do segredo, esta compreensão de Deus no sofrimento é a ação de Deus em nós. Tal compreensão é o testemunho do Espírito, pelo qual é permitido à Verdade ser a Verdade e também a garantia de que somos filhos de Deus e, como tais, herdeiros de sua glória."</em> (Epístola aos Romanos, OUP, 1968, pág 301)Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-35798683573388557192011-11-30T16:33:00.000-08:002011-11-30T16:57:16.748-08:00Ipse Spiritus testimoniumConsidera, che testimonianza sia questa, che lo Spirito Santo ci rende, di esse noi figliuoli di Dio. Não é eterna, como aquela que Cristo recebeu no Jordão; mas é interna; pois que se diz que a dá pela via do Espírito, não dos olhos ou dos ouvidos. Ela consiste no íntimo senso de amor filial. Opera por amor, não por temor. Sua nobre consequência é ser herdeiro de Deus. Muito melhor que ser herdeiro terreno, pois só herdam quando morto é o pai. A outra herança é o Pai ele mesmo. Nem se divide com outros filhos. E somos herdeiros também de Cristo; coisa maravilhosa: que outro filho natural buscou outros herdeiros para seu Pai? Mas esta herança celestial não se conquista como as terrenas, sem mérito, sem busca, às vezes dormindo. É preciso conquistá-la. Se queres reinar com Cristo, precisas sofrer com Cristo. Benche quando mai dovrai tu patire una minima particella di ciò c'hà patito Cristo? Patirai con Cristo, ma non patirai come Cristo.<br />
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(<em>marzo xxiv</em>...Ipse Spiritus testimonium reddit... <em>Rom. 8. 17</em>)Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-68716328460657728982011-11-11T16:22:00.000-08:002011-11-11T16:22:52.169-08:00Dar Rumani nu vor paceaLê-se na internet que, dentre os artefatos produzidos pelo homem e preservados pela História, os mais numerosos são os potes de maquiagem do antigo Egito. Milhões jazem espalhados como lixo pelos desertos em torno do rio Nilo, um mudo testemunho da vaidade e também da indústria humana. O prestígio dessa atividade é tamanho que recentemente fabricantes franceses de cosméticos buscaram recuperar suas técnicas e seus desenhos. <br />
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O esforço de tornar eterno o efêmero esbarrou, contudo, em realidades mais prosaicas: boa parte das substâncias cosméticas usadas no antigo Egito provocam sérias intoxicações por metais ou irritações cutâneas intoleráveis para os padrões sanitários modernos.<br />
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Este é apenas um exemplo da observação precisa de Segneri, baseada em um texto célebre do Evangelho. Adorar as coisas desse mundo, para o homem, é, na verdade, adorar as coisas de apenas um século, talvez menos. Os padrões de beleza, de consumo, de luxo, de ostentação mudam constantemente. O <em>Biltmore Estate</em>, na Carolina do Norte, foi construído como exibição de fortuna privada, passou a museu e está reduzido a um hotel. As ilusões amadas pelos homens de um século são irreconhecíveis para os homens de outro século. Cigarros já foram considerados sinal de riqueza e sofisticação. Amar as coisas desse mundo é amar coisas que estão condenadas à morte ou ao ridículo.<br />
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A eternidade tão ambicionada pelos homens, a extensão ou o sentimento da extensão temporal, pode ser apenas sugerida pelas coisas que são eternas, como Deus. Um contemporâneo de Segneri escreveu, no último livro de sua obra sobre ética, que o amor intelectual de Deus é eterno e mais: "<em>do terceiro gênero de conhecimento necessariamente surge o amor de Deus. Deste tipo de conhecimento nasce o prazer acompanhado pela idéia de Deus como causa, ou seja, o amor de Deus; não enquanto o imaginamos presente, mas enquanto o entendemos como eterno</em>".<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4biv0naXm0QSoXCZS9Gj9kDa3PZp4Ly7F4rqFejc2k66KrwjUYTLL_K53sLWIC6_XhsluiT4pwjDNHLArZV47Qqg1TyCn6PvH-xU0p5qIpwlCwJO95EO3QTmi8GQllXLZtcn9uH3hu8A/s1600/History+of+Cosmetic.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="278px" nda="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4biv0naXm0QSoXCZS9Gj9kDa3PZp4Ly7F4rqFejc2k66KrwjUYTLL_K53sLWIC6_XhsluiT4pwjDNHLArZV47Qqg1TyCn6PvH-xU0p5qIpwlCwJO95EO3QTmi8GQllXLZtcn9uH3hu8A/s400/History+of+Cosmetic.jpg" width="400px" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Representação contemporânea da maquiagem egípcia.</div>Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-22178967699735349292011-11-02T17:53:00.000-07:002011-11-11T15:57:42.674-08:00Quicunq volueriti amicusConsidera, che Secolo è una misura di ciò che passa, e misura massima. Primeiro é a hora, depois o dia, depois a semana, depois o mês, depois o ano, depois vem o século. E é nesse tempo que se gozam as coisas: um século só. Deus, ao contrário, é imortal e imutável, não se submete a nenhuma medida do tempo. Quais bens preferes? Os do século? Ou os eternos? Seria impossível duvidar da escolha, não fossem tantos os que preferem o século. Vêem o presente, não o futuro. Quem é amigo do século, é inimigo de Deus. Veja que não estar no século, mas ser amigo do século. Ma come mai potrai giungere a questo stesso [a lei de Deus]?Col pensare spesso fra te, che cosa sono alla fine tutti que' beni, che il Secolo ti può dare, i suoi piaceri, le sua richezze, i suoi onori. Se pur son beni, sono al più lungo tutti beni di un Secolo.<br />
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(<em>marzo xxiii</em>... Quicunq volueriti amicus... <em>Iac.4.14</em>)<br />
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* (A passagem é Tiago 4, 4)Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-18458621193777932702011-10-27T14:03:00.000-07:002011-11-03T07:42:47.339-07:00Eu me opriiu pe valea bogata in morminteA sofisticação psicológica das notas de Segneri só podem ser explicadas por sua longa e calculada observação do comportamento humano. A atitude de seu "peregrino", sempre andando na beira do abismo, mesmo quando conhece a dimensão do abismo, por muitas décadas foi compreendida em termos morais ou atribuída a forças ocultas. Apenas recentemente seu caráter obsessivo recebeu uma descrição científica sob o conceito de <em>comportamento de risco</em>. Note-se que não se trata, aqui, de um obsessão induzida por razões diretamente patológicas; o comportamento de risco é mantido mesmo quando a mente, racionalmente, reconhece os perigos nele implicados.<br />
<br />
A preocupação contemporânea com o fenômeno teve sua origem, naturalmente, na epidemia de HIV/AIDS. Sem cura ou tratamento eficaz por muitos anos, a transmissão da enfermidade não ocorria, geralmente, por atos e eventos independentes da vontade da pessoa contaminada. Como os valores modernos não podem aceitar, por conta de seu iluminismo otimista, que a prática sexual seja induzida diretamente por fatores que estão além da vontade individual, restava admitir que a consciência humana, mesmo posta diante de um risco evidente, preferia andar à beira da precipício, tal como o "peregrino" de Segneri.<br />
<br />
Hoje, contudo, esforços crescentes de engenharia social levaram o conceito de comportamento de risco muito além do campo sexual. Práticas alimentares de crianças, hábitos sexuais de adolescentes, vícios adultos, reações ao estresse ou mesmo o suicídio de militares são estudados sob a perspectiva do comportamento de risco.<br />
<br />
Uma rápida análise dessa literatura psicológica mostra, contudo, um beco sem saída. Como os seres humanos modernos, por definição, são sempre bons e racionais, a única explicação para um comportamento de risco precisa ser externa. Sendo externa, ela limita o livre arbítrio do sujeito e, por decorrência, a própria idéia de um comportamento que deliberadamente assume riscos.<br />
<br />
Segneri não sofre com esses dilemas. O problema é a fraqueza humana, incapaz de caminhar mesmo em uma estrada plana.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS8mMiy8hES-ExdWfIgV_Pl8Xm5a683h5Lvc4e94SZECvJJ95ZfecERoYHm5w43L_X-OoMjH1E141Rtdw2bpeZYyeAxENEvlrSTBioxYRaOPLtGV7R2XZx9dhliuis14P-mZ1e2PfJbo4/s1600/Alvedrio.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="358px" ida="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS8mMiy8hES-ExdWfIgV_Pl8Xm5a683h5Lvc4e94SZECvJJ95ZfecERoYHm5w43L_X-OoMjH1E141Rtdw2bpeZYyeAxENEvlrSTBioxYRaOPLtGV7R2XZx9dhliuis14P-mZ1e2PfJbo4/s400/Alvedrio.JPG" width="400px" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">"Te lleva tu alvedrio a unión con Dios o con el bruto impio"</div><br />
<br />
Juan de Rojas.<em> Representaciones de la Verdad Vestida, Mysticas, Morales y Alegoricas sobre las Siete Moradas de Santa Teresa de Jesus, Gloria del Carmelo, y Maestra de las Primitiva Observancia</em>. Madrid, 1679. Terceras Moradas.Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-63098160988357297432011-10-26T06:13:00.000-07:002011-10-26T06:13:58.709-07:00quia non sumus consumptiConsidera, che sarebbe di un Pellegrino, il quale havendo caminato tutta una notte, si accorgesse sù'l far del dì havere caminato continuamento sù l'orlo di un orrendissimo precipizio. Como gelaria seu sangue! Como renderia graças a Deus! Assim seria se Deus te fizesse ver o sumo perigo. Deverias ser grato por tanto. Que seria se tal Peregrino se, conhecido o perigo, voltasse a caminhar sobre o precipício. Não mereceria ser abandonado? E tu, por que retornas aos pecados antigos? Não conviria que o Peregrino mantivesse a maior distância possível do precipício? Deus ordena aos anjos que te protejam, pois em tua via haverá acidentes, desvios e obstáculos, mas e se tu procuras os ínvios caminhos, quando os planos, eles mesmos, têm seus perigos? Vi sono strade più piane, più pulite, più publiche delle piazze e pura ancora in esse si sdrucciola molte volte, ancora in esse si cade, tanta è l'umana fiachezza.<br />
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(<em>marzo xxii</em> .... Miserricordia Domini... <em>Ihr. 3.22</em>)Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-58011302536768089072011-10-18T09:27:00.000-07:002011-10-26T05:43:24.414-07:00molte ingiure di sua gran confusioneNão escapava a Segneri os perigos de sua escolha vocacional e de seu talento literário. Celebrado pelas populações que se reuniam para ouvir suas prédicas em praças e estradas e recolhiam mínimas relíquias, como a água que restava em seu copo, ele praticava uma rotina de atos de humilhação, como lavar os pés de seus servos e a flagelação ritual. As editores pediam suas obras para publicação, mas bastava uma observação de seu confessor para que deixasse morrer o assunto. Atos como a pintura de seu retrato em uma muralha urbana perto de Gênova ou o hábito de lhe chamarem de "Padre Santo" lhe causavam grande preocupação. Com o tempo, evitava demonstrações públicas de sacrifício pessoal. Por vezes, entrava em uma cidade em uma carruagem, depois de ter percorrido todo o caminho a pé. Para um religioso sincero, os sinais de glória temporal podem ser preocupantes. Mais velho, após a missa, por vezes pedia a um irmão que o flagelasse e lhe dissesse em face as injúrias mais desconcertantes.<br />
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<em>Raguagglio</em>, capítulos LVIII a LXI.Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-61832340393429759322011-10-10T09:17:00.000-07:002011-10-10T09:17:53.668-07:00D'o rece sudóre eram inundatRegra de São Benedito, "Sobre o trabalho do dia": <br />
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A preguiça é a inimiga da alma; assim os irmãos devem trabalhar com as mãos durante certo tempo, em outros, ocupar-se com leituras devotas. O tempo para trabalho e leitura deve ser propriamente ordenado. Da Páscoa às calendas de outubro, devem sair para o trabalho da primeira à quarta hora, mas da quarta à sexta devem ler. Depois da sexta hora, quando se levantarem da mesa, deixe que descansem e seus leitos em completo silêncio. Se ninguém quiser ler para si mesmo, deixe que leiam sem perturbar os demais. Depois do meio da oitava hora trabalhe-se até as Vésperas.<br />
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Se a necessidade do lugar ou a pobreza exigirem que eles mesmos façam a colheita, não deixe que se entristeçam, pois então eles serão monges em verdade se vivem pelo trabalho de suas mãos, como fizeram nossos antepassados e os Apóstolos. Embora, em favor dos fracos de coração, deixe que as coisas sejam feitas com moderação.<br />
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Das calendas de outubro até o início da Quaresma, deixe que leiam até completar-se a segunda hora. Será então lido o terço e todos trabalharão até a nona hora. Quando for dado o primeiro sinal da nona hora, devem deixar o trabalho e estar prontos para o segundo sinal. Após a refeição, deixa que leiam os salmos.<br />
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Durante a estação da Quaresma, leiam pela manhã até a quinta hora e até a décima hora trabalharão como foi imposto. Nesses dias, receberão livros da biblioteca e deixe que leiam em ordem. Estes livros serão dados no início da estação da Quaresma.<br />
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Acima de tudo, faz com que um ou dois dentre os mais velhos sejam indicados para andar pelo monastério e vejam que os irmãos se dediquem à leitura devota, pois um irmão ocioso pode ser encontrado sem nada fazer, sem atender à leitura, o que não aproveita para si mesmo e perturba os demais. Se algum desses for encontrado (Deus proíba) seja ele punido uma vez e de novo. Se não se corrige, seja punido pela Regra de modo que os demais temam. Não deixa que um irmão se junte a um irmão fora da ocasião determinada.<br />
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Nos domingos, deixa que todos se devotem à leitura, a não ser aqueles que têm tarefas. Se algum for tão sem cuidado e preguiçoso que não medite nem leia, algum trabalho lhe seja dado para que não fique à toa.<br />
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Um emprego seja dado aos fracos e enfermos para que não estejam ociosos, mas sem que sejam carregados com esforço e recusem. Sua fraqueza será levada em conta pelo abade."Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-18946280306263566172011-10-06T10:37:00.000-07:002011-10-06T10:37:02.878-07:00Ora et laboraNo antigo calendário dos santos, o dia 21 de março estava reservado a São Benedito (480-547), o fundador do peculiar monasticismo do Ocidente. Após duzentos anos de revolução industrial e de estado laico, monges e conventos parecem irreversivelmente tisnados, um e outro, como fanáticos e como antros de fanáticos religiosos, imprestáveis para a sociedade e hostis ao convívio entre os homens. Uma leitura mais atenta da biografia de São Benedito (cujo primeiro exemplar é atribuído a São Gregório Magno e escrita em 593) e dos primeiros séculos do monasticismo ocidental não justificaria, contudo, tal repulsa. O recolhimento diante da vulgaridade do mundo, por exemplo, não pode mais ser considerado um gesto estranho e inopinado: basta meia hora de exposição à mídia popular para que uma discreta vontade de se refugiar no campo se instale. <br />
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Muitos dirão que se trata de uma rejeição à liberdade de expressão, mas este argumento é falacioso, pois supõe que a mídia popular seja um puro evento de opinião. Não é. É uma operação de venda, são campanhas de propaganda e não é por acaso que a publicidade seja a responsável direta pela maioria dos movimentos em favor da liberdade de expressão. Para evitar a exposição a um ridículo desagradável, a melhor alternativa pode ser mesmo evitar a televisão ou recolher-se a um local fora do alcance dos jogos de gladiadores, dos mercados de escravos, da corrupção, etc. Tal como fez Benedito naqueles anos de barbárie.<br />
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Também não se nota com o devido rigor que a regra de Benedito inclui o trabalho, objeto de desprezo sob o escravismo antigo, cujo produto reverteria para os próprios homens recolhidos. Ao contrário do que sugerem as fantasias tardias do capitalismo, o monge, originalmente, não era um vagabundo. Podia não ser um empresário inovador, mas também não era um proletário. Ao contrário do monge do Oriente, um parasita sustentado pelas comunidades, o monge beneditino produzia riqueza e, talvez, riqueza demais.<br />
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Para o Estado, sempre sedento de impostos e de poder, aqueles homens recolhidos, que pouco se importavam com as mitologias seculares, orando e trabalhando, ilustrados por uma ideologia consistente, eram uma ameaça palpável. Como controlaremos a populaça por meio do pão e do circo, se perguntavam os governantes, se estes homens têm o seu próprio pão e não se interessam pelo circo? Se não têm a menor intenção de pagar o preço da proteção a uma máfia governamental?<br />
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O monasticismo ocidental, na verdade, impõe uma fronteira perigosa para as palavras de Jesus sobre o que é de César. Por fim, como justificar aos olhos dos homens as fraquezas e ambiguidades da política matrimonial e sexual dos monarcas quando havia o termo de comparação com poder sem sexo dos conventos e monastérios? O governo, ontem, hoje e sempre, é o inimigo número um dos homens que se recolhem. Estes sabem produzir seu próprio pão, não acreditam em paraísos terrestres e rejeitam a vulgaridade patética dos príncipes.<br />
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No Ocidente, Felipe, o Belo, rei de França, ganhou essa batalha: crucificou e queimou os monges guerreiros. Nada havia, contudo, de fatal nessa vitória, nem ela supera a força dos que se retiram, oram e laboram.<br />
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<div align="center" style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLHVYs4uCtV3dbAbPL1IbVcRFbUjf9-CASXPy75BInjHSCdpNcQ6BnTi1FRhrvjekZWj9XpnxdHdMyWQYnPFjZaXjHfTjLLwO_SCNI8pqj1MBiDCxnKwvPnRSV4_EOQZ4mMKX-XGL6fwc/s1600/titian-tiziano-vecelli-portrait-of-a-knight-of-the-order-of-malta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400px" kca="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLHVYs4uCtV3dbAbPL1IbVcRFbUjf9-CASXPy75BInjHSCdpNcQ6BnTi1FRhrvjekZWj9XpnxdHdMyWQYnPFjZaXjHfTjLLwO_SCNI8pqj1MBiDCxnKwvPnRSV4_EOQZ4mMKX-XGL6fwc/s400/titian-tiziano-vecelli-portrait-of-a-knight-of-the-order-of-malta.jpg" width="300px" /></a></div><div style="text-align: center;">Tiziano. <em>Cavaleiro da Ordem de Malta. </em>(c.1510)</div>Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2004942755490892593.post-85775099054329179412011-09-25T15:26:00.000-07:002011-10-26T05:44:09.152-07:00Asculta-me, sfântu preotu; asculta-me parinteA posição alcançada pelo consumo de bens materiais na sua escala de valores talvez ofereça o contraste mais dramático entre a modernidade e os sistemas éticos e religiosos do passado. Desde 1953, o consumo nunca representou menos do que 60% da economia dos Estados Unidos da América e na década atual aproxima-se do patamar de 70%. Tão ubíqua é a presença do consumo na vida social que maiores gastos com publicidade nem são necessários. Ainda nos Estados Unidos, eles têm se mantido estáveis, como propoção do produtor interno bruto, desde o início do século XX (<a href="http://www.galbithink.org/ad-spending.htm">http://www.galbithink.org/ad-spending.htm</a>). É desnecessário notar aqui os aspectos grotescos de uma sociedade que funciona sob tal imperativo. A cada ano, por exemplo, milhões de animais domésticos são abandonados e sacrificados, uma vez que deixam de cumprir suas funções emocionais e estéticas.<br />
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Por sua vez, a idéia (e o sentimento) de um balanço mais equilibrado entre a busca de bens materiais e espirituais não decorre inexoravelmente de um marco confessional. Desde a década de 1990, vários movimentos de repulsa ao consumismo e ao estiolo de vida moderno vêm se organizando a partir do chamado <em>Downshifting Manifesto</em>. Parte do movimento Verde, seu objeto específico é reduzir a relação das pessoas com o consumismo de massa (<a href="http://downshiftingweek.com/sitebuildercontent/sitebuilderfiles/DownshiftingManifesto2008.doc">http://downshiftingweek.com/sitebuildercontent/sitebuilderfiles/DownshiftingManifesto2008.doc</a>). <br />
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Não se trata de um movimento contra a civilização industrial: "uma pessoal frugal não é uma pessoa pobre". O objetivo é utilizar as facilidades da civilização industrial para viver melhor, em busca de outros propósitos na vida (<a href="http://www.thedownshifter.co.uk/frugality.html">http://www.thedownshifter.co.uk/frugality.html</a>). Reduzir os "afãs e ansiedade", como sugere Segneri. Descobrir o próprio bem exige estudo.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu6YTWadsflZs3RAqIJEy7CvCTWq52NLj2-vxIoQOZpYAqFmmC8bzOGzKGSOpjrLchN9ZtTHYoU-LRASAM2kpfEwfhZMwhNtnoDW_fERZf3AIx3ZMCks_uzAvfqyPRDBq-Is_Ou9tZyh4/s1600/large_Tire%252520dump.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" hca="true" height="247px" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu6YTWadsflZs3RAqIJEy7CvCTWq52NLj2-vxIoQOZpYAqFmmC8bzOGzKGSOpjrLchN9ZtTHYoU-LRASAM2kpfEwfhZMwhNtnoDW_fERZf3AIx3ZMCks_uzAvfqyPRDBq-Is_Ou9tZyh4/s400/large_Tire%252520dump.jpg" width="400px" /></a></div>Luciano Diashttp://www.blogger.com/profile/14643838598280887515noreply@blogger.com2