terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sufla un vînt, si luna 'ngrozita

A figura da espera de Deus pelo pecador é clássica na oratória cristã, sendo conhecida a associação com a Parábola do Filho Pródigo. O problema do julgamento de Deus não é o seu exercício, mas o seu tempo; Ele não precisa de razões para punir, pode fazê-lo a qualquer momento, mas espera para perdoar. Em sua meditação, contudo, Segneri vai um pouco além desse lugar comum. Fino analista da alma humana, sabe o quanto sua correção depende do julgamento subjetivo do tempo. Quem faz o mal, sabe que faz e acredita também que há tempo de sobra, na vida, para se arrepender e corrigir seus passos. Como escreveu Santo Agostinho: dai-me continência e recato, mas não agora! A meditação proposta por Segneri visa a tranquilidade do pecador, a sensação de que a vida é longa, de que o Senhor é paciente. Para o Homem, o curso da vida é o calendário, o número fixo de dias e meses e a confiança nos anos que ainda há por vir. Posso pecar de janeiro a novembro, se me arrepender em dezembro. Os números de Deus, contudo, são inescrutáveis. O seu tempo, alerta Segneri, pode já estar cumprido.

O comentário de Sócrates, sobre esse mesmo ponto, é mais leve. Muitos homens afirmam que ainda é cedo para que iniciem o estudo da Filosofia. Não os entendo - é como adiar o início da felicidade.



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