sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Bem meravill on a son cor


Em abril de 2007, o instituto Datafolha publicou uma extensa pesquisa de opinião sobre o estado das práticas religiosas no Brasil, revelando um panorama de relativa intensidade.
Ao responder um questionário, a pessoa não precisa dizer a verdade, mas as taxas alegadas de comparecimento a cultos é elevada no país:

O percentual de fiéis que costuma ir à Igreja, cultos ou serviços religiosos não difere muito, quando se trata da religião declarada: 94% dos católicos, 98% dos evangélicos pentecostais, 99% dos não pentecostais e 95% dos espíritas dizem ir. Os umbandistas e os adeptos do candomblé costumam ir um pouco menos a serviços religiosos (82% e 84%, respectivamente). Quando se trata da freqüência, os evangélicos pentecostais se destacam: 60% deles dizem ir ao culto mais de uma vez por semana e 25% declaram presença pelo menos uma vez por semana. Entre os católicos essas taxas são de, respectivamente, 16% e 35%. Um terço (30%) dos que declaram não ter religião ou que se declaram ateus dizem ir à igreja, a cultos, ou serviços religiosos.

É fácil notar que a distância entre os números de comparecimento e de frequência recomendam cautela. Se 60% dos evangélicos declaram assistir cultos mais de uma vez por semana, apenas 16% dos católicos fazem o mesmo. Dentre os católicos, a maioria da população, apenas 41% vão à Igreja pelo menos uma vez por semana. Por sinal, no Brasil, mesmo os ateus vão a cultos religiosos.

A pesquisa sugere ainda que o culto religiosos pode ter se transformado em um assunto de ordem particular. Poucas pessoas declaram ir à Igreja para ouvir padres e pastores ou mesmo dar graças. O centro da religião contemporânea no Brasil é a prática da oração:

Os entrevistados que costumam ir à igreja ou a cultos e serviços religiosos dizem que têm esse hábito porque, entre outros motivos, gostam de rezar ou de orar (21%), porque se sentem bem, fortalecidos ou em paz (19%), para pedir uma graça (13%), para escutar pregações ou sermões (12%), para se aproximar, cultuar e servir a Deus (10%) e para agradecer por graças obtidas (9%).

Não se pode, contudo, afirmar que a religião é apenas um ritual privado. Um quinto dos entrevistados afirma ter mudado sua vida como resultado de orientação religiosa:

Aproximadamente um quinto (21%) dos entrevistados afirma já ter mudado algum hábito ou deixado de fazer alguma coisa por causa de sua religião. A maioria (54%) dos evangélicos pentecostais já fez mudanças em sua vida diária por motivos religiosos. As mudanças mais citadas por esses entrevistados foram parar de beber ou diminuir o consumo de álcool (24%), deixar de ir a bailes, festas, de sair à noite (21%), parar de fumar ou reduzir a quantidade de cigarros consumidos (15%), mudanças no vestiário (7%), parar de usar maquiagem e adereços como brincos, por exemplo (6%).

A taxa dos que dizem já ter mudado seus hábitos por causa da religião também fica acima da média entre os evangélicos não pentecostais (45%), entre os adeptos do candomblé (47%) e entre os espíritas (29%). Entre os católicos, por outro lado, 90% dizem nunca ter mudado sua rotina por causa da religião; entre os umbandistas essa taxa é de 81%.

Os números mostram, contudo, que o processo de conversão (típico das religiões protestantes) ou uma identidade cultural específica (caso das religiões de origem africana) respondem pelo poder de modificação dos hábitos pessoais em função de crenças religiosas. Os católicos, maioria da população, declaram não mudar seus hábitos pessoais por causa da religião.

Esses números expõem sob outra luz o indiferentismo religioso denunciado por Segneri, um pregador responsável por centenas de missões de predicação nas áreas rurais da Itália no século XVII. O fervor religioso não é uma característica da maioria dos crentes, a não ser em condições muito especiais.

3 comentários:

  1. Eu sou um dos poucos católicos (de acordo com a pesquisa) que mudou alguns hábitos. Desde 2000, não uso mais brincos. (Eu tinha seis). Mamãe frequenta a missa todos os domingos religiosamente. Uma pesquisa mais séria, se feita entre os movimentos da Igreja Católica (Carismáticos, Focolares, etc)revelaria dados muito interessantes.
    Belo blog. Comentarei mais postagens em outras oportunidades!
    Saudações bachianas!

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  2. A pesquisa é séria, Isaac, e ela mostra o que realmente é importante. Fé é aquilo que muda sua vida. O resto, não é nada, como condenava o Segneri.

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  3. Sim, concordo! Apenas quis dizer que os dados seriam interessantíssimos se a pesquisa fosse feita entre os católicos praticantes, ou pertencentes aos movimentos da Igreja Católica...Sempre tive curiosidade por resultados de uma pesquisa dessa espécie..

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