terça-feira, 11 de agosto de 2009

Per la via se cantavano


É bem possível que Massei estivesse consciente da transformação que registrou, do jovem promissor ao pregador missionário, cujo trabalho se estenderia por quase trinta anos, entre 1665 e 1692, quando o Papa lhe chamou a Roma.

O biógrafo comenta todas as fases da formação e da maturidade de um jesuíta militante. O estudo das Orações de Cícero com o propósito anunciado de aprender como mover corações e mentes. O desejo de oferecer-se ao martírio. A crise espiritual, iniciada subitamente em Peruggia, à qual não falta nem mesmo a motivação pontual da surdez que o acometeu. O ímpeto de livrar-se de todo e qualquer bem material desnecessário para sua missão. (Quem nunca sentiu que a posse de objetos materiais é um obstáculo para o cumprimento de um destino espiritual?)

Por fim, a descrição de suas prédicas religiosas, verdadeiros acontecimentos públicos se desdobrando de vilarejo em vilarejo, a partir de um planejamento detalhado, e acompanhados dos maiores cuidados na expressão do sentimento religioso. As caminhadas que fez descalço e mal vestido, as lágrimas abundantes na condução da missa, a reconciliação pública de inimigos jurados, os cortejos, as curas milagrosas, etc.: não há nisso tudo um sinal da realização pessoal do militante autêntico, pouco interessado nas sutilezas da hierarquia de uma organização e dedicado ao trabalho de campo? Não há algo de estranho e, ao mesmo tempo familiar, nesse leitor de Cícero e tradutor do latim andando pelas estradas esquecidas da Itália para falar de Jesus Cristo?

(Raguaglio, capítulos 5 a 11).


(Imagem: Ciro Ferri, 1634-1689, Prediche dette nel palazzo apostolico da Gio Paolo Oliva... In Roma : Ap Gio. Casoni, [entre 1655 e 1683]. Gravura: buril e água-forte.)

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