A recomendação da violência contra a própria carne talvez o aspecto mais chocante, para uma mentalidade moderna, dos cultos religiosas. Um exame mais detido das idéias que presidem a sua prática, contudo, poderia não apenas ajustar o seu correto sentido, mas também apontar para sua real deformação, ontem e hoje.
Doutrinaria e institucionalmente falando (ver http://www.religious-vocation.com/redemptive_suffering.html), a Igreja estabelece limites bem claros para a prática canônica da auto-flagelação. Deve ser praticada no contexto de uma comunidade religiosa, sob a direção espiritual de um superior e conduzida em segredo.
Praticar a auto-flagelação de moto próprio, sem um sentido definido por uma comunidade religiosa e exibi-la como espetáculo não é sinal de religiosidade ortodoxa. Pode ser sinal de qualquer coisa: de exibicionismo a fórmulas de submissão a autoridades.
Separadas essas perspectivas, a auto-flagelação ganha a dimensão semântica de seu denominador original: disciplina. Uma forma de impor a própria vontade sobre as frágeis disposições do corpo, um meio de puni-lo quando se torna um obstáculo para o objetivo final - a salvação. Nada que um drogado moderno, em uma clínica de tratamento, forçado a fazer trabalhos artesanais sem sentido, não seja capaz de entender.
Quem lê, contudo, a biografia de Paolo Segneri sabe que não se furtava a usar seu corpo flagelado como espetáculo religioso no decorrer dos cultos que presidia.
(Imagem: Flagelantes. Séc XVII. Note-se o rosto coberto.)
terça-feira, 15 de setembro de 2009
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