domingo, 29 de janeiro de 2012

Catand in viata pacea, si 'n pace multumirea

Os paradoxos implicitos no julgamento moral de atos individuais encontram uma exposição canônica na Sura 18, A Gruta, quando Moisés interroga um dos Servos do Senhor:

"E encontraram-se com um dos Nossos servos, que havíamos agraciado com a Nossa misericórdia e iluminado com a Nossa ciência.
E Moisés lhe disse: Posso seguir-te, para que me ensines a verdade que te foi revelada?
Respondeu-lhe: Tu não serias capaz de ser paciente para estares comigo.
Como poderias ser paciente em relação ao que não compreendes?
Moisés disse: Se Deus quiser, achar-me-á paciente e não desobedecerei às tuas ordens.
Respondeu-lhe: Então segue-me e não me perguntes nada, até que eu te faça menção disso.
Então, ambos se puseram a andar, até embarcarem em um barco, que o desconhecido perfurou. Moisés lhe disse: perfuraste-o para afogar seus ocupantes? Sem dúvida que cometeste um ato insólito!
Retrucou-lhe: Não te disse que és demasiado impaciente para estares comigo?
Disse-lhe: Desculpa-me por me ter esquecido, mas não me imponhas uma condição demasiado difícil.
E ambos se puseram a andar, até que encontraram um jovem, o qual (o companheiro de Moisés) matou. Disse-lhe então Moisés: Acabas de matar um inocente, sem que tenha causado morte a ninguém! Eis que cometeste uma ação inusitada.
Retrucou-lhe: Não te disse que não poderás ser paciente comigo?
Moisés lhe disse: Se da próxima vez voltar a perguntar algo, então não permitas que te acompanhe, e me desculpe.
E ambos se puseram a andar, até que chegaram a uma cidade, onde pediram pousada aos seus moradores, os quais se negaram a hospedá-los. Nela, acharam um muro que estava a ponto de desmoronar e o desconhecido o restaurou. Moisés lhe disse então: Se quisesses, poderia exigir, recompensa por isso.
Disse-lhe: Aqui nós nos separamos; porém, antes, inteirar-te-ei da interpretação, porque tu és demasiado impaciente para isso:
Quanto ao barco, pertencia aos pobres pescadores do mar e achamos por bem avariá-lo, porque atrás dele vinha um rei que se apossava, pela força, de todas as embarcações.
Quanto ao jovem, seus pais eram fiéis e temíamos que os induzisse à transgressão e à incredulidade.
Quisemos que o seu Senhor os agraciasse, em troca, com outro puro e mais afetuoso.
E quanto ao muro, pertencia a dois jovens órfãos da cidade, debaixo do qual havia um tesouro seu. Seu pai era virtuoso e teu Senhor tencionou que alcançassem a puberdade, para que pudessem tirar o seu tesouro. Isso é do beneplácito de teu Senhor. Não o fiz por minha própria vontade. Eis a explicação daquilo em relação ao qual não foste paciente." (Sura 18, A Gruta, 65-82)

O texto do Corão não afirma diretamente quem seja o "nosso servo" mencionado no verso 65, mas os comentários não têm dúvida em identificá-lo com Al Khidr, o verde, uma figura espiritual do mundo pré-islâmico, um mensageiro de Deus, dotado de juventude eterna, incorporado posteriormente à tradição.(http://khidr.org/).


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