sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Dar Rumani nu vor pacea

Lê-se na internet que, dentre os artefatos produzidos pelo homem e preservados pela História, os mais numerosos são os potes de maquiagem do antigo Egito. Milhões jazem espalhados como lixo pelos desertos em torno do rio Nilo, um mudo testemunho da vaidade e também da indústria humana. O prestígio dessa atividade é tamanho que recentemente fabricantes franceses de cosméticos buscaram recuperar suas técnicas e seus desenhos.

O esforço de tornar eterno o efêmero esbarrou, contudo, em realidades mais prosaicas: boa parte das substâncias cosméticas usadas no antigo Egito provocam sérias intoxicações por metais ou irritações cutâneas intoleráveis para os padrões sanitários modernos.

Este é apenas um exemplo da observação precisa de Segneri, baseada em um texto célebre do Evangelho. Adorar as coisas desse mundo, para o homem, é, na verdade, adorar as coisas de apenas um século, talvez menos. Os padrões de beleza, de consumo, de luxo, de ostentação mudam constantemente. O Biltmore Estate, na Carolina do Norte, foi construído como exibição de fortuna privada, passou a museu e está reduzido a um hotel. As ilusões amadas pelos homens de um século são irreconhecíveis para os homens de outro século. Cigarros já foram considerados sinal de riqueza e sofisticação. Amar as coisas desse mundo é amar coisas que estão condenadas à morte ou ao ridículo.

A eternidade tão ambicionada pelos homens, a extensão ou o sentimento da extensão temporal, pode ser apenas sugerida pelas coisas que são eternas, como Deus. Um contemporâneo de Segneri escreveu, no último livro de sua obra sobre ética, que o amor intelectual de Deus é eterno e mais: "do terceiro gênero de conhecimento necessariamente surge o amor de Deus. Deste tipo de conhecimento nasce o prazer acompanhado pela idéia de Deus como causa, ou seja, o amor de Deus; não enquanto o imaginamos presente, mas enquanto o entendemos como eterno".




Representação contemporânea da maquiagem egípcia.

2 comentários:

  1. Super interessante. Já leu " O retrato de Dorian Gray - Oscar Wild?
    Esse livro fala sobre a efemeridade da beleza e da juventude e dos transtornos de amar os prazeres do mundo, lembrei imediatamente ao ler este texto.
    Gostei muito, continue postando.

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  2. Que bom que gostou! Conheço bem o livro e a idéia do retrato reflete bem o conceito do texto. Mesmo permanecendo jovem, o estilo da pintura ficará antiquado...

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