quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

apenre pos, non sui tan veillz

Nada mais natural do que uma conexão entre condenação da fama mundana conduzida por Segneri e o culto contemporâneo da celebridade. Sua análise é tão serena e precisa que aplica-se com facilidade ao noticiário do dia, desdobrando-se de forma criativa na indagação do que seria a fama de cada um perante o Senhor. Ele - que tudo sabe - não precisaria dos caminhos incertos do rumor para formar seu julgamento sobre cada um. No entanto, a figura retórica mantém sua força.

Se existe uma lição, contudo, que sempre sobrevive ao teste da realidade é aquela registrando as virtudes públicas decorrentes de vícios privados. Em vários aspectos, o que pode parecer aberrante do ponto de vista individual - a avareza, a genialidade, o gosto pela fofoca, etc - pode produzir vantagens sociais substantativas - o investimento, o desenvolvimento tecnológico, a imprensa. Não é diferente com a busca da fama terrena e vejo com fascinação o exame do tema pelo Tyler Cowen.

Em Qual o Preço da Fama? Cowen chega a dezenas de conclusões fabulosas, do plano moral à filosofia política, que não podem ser resumidas em uma nota breve. Quase todas, por sinal, decorrentes dos mesmos mecanismos descritos por Segneri. Ele sugere, por exemplo, que a busca da fama tem um impacto financeiro negativo sobre as celebridades, que, na média, extraem rendimentos decrescentes de seu investimento em se tornar e manter famoso. Não nos iludamos com meia dúzia de bilionários famosos, a realidade das profissões que dependem da fama é cruel. De outro lado, na média, os fãs normais extraem sentido e satisfação existencial com muito menos investimento pessoal na indústria da fama. A escala social que torna viável a cultura pop é sustentada, na verdade, sobre dois tipos de vítima: o aficcionado obsessivo e o famoso fracassado. Cowen não tem dúvida de que boa parte da economia americana está relacionada à indústria da "fama", mas concordaria com as advertências de Segneri sobre o danos morais pessoais da mesma.

Cowen atinge alturas filosóficas quando analisa o impacto da fama moderna sobre a política e sobre o poder. O Estado Moderno é muito mais poderoso do que qualquer versão similar do passado e os riscos associados à liderança política são, portanto, muito maiores. Os holocaustos modernos comprovam o poder da seriedade e do messianismo. As eleições, contudo, terminam forçando o político moderno a se tornar uma celebridade e, com isso, ele vai perdendo algo de sua seriedade. Ao depender da fama, vai se tornando mais ridículo. Há 30 anos, um chefe de Estado com uniforme militar causava alguma impressão; hoje é visto como um personagem de opereta. Segneri, no fundo, tem toda a razão.


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