quinta-feira, 14 de julho de 2011

De esci tu essecutor inaltelor decrete

Nas inflexões de um texto que soa convencional, transparece sua notável capacidade de observação humana. É verdade que Segneri foi aceito na Companhia ainda adolescente e conviveu por décadas com as realidades de uma instituição que era, ao mesmo tempo, religiosa e temporal, dominada pela absoluta autoridade papal. Ainda assim, surpreende a precisão dos sinais de desvios de fins e meios em uma organização composta, afinal, por homens.

O primeiro deles, o ressentimento das injúrias, aponta para a identificação entre os interesses da pessoa que ocupa uma posição de comando e os interesses da organização que dirige. É a deformação da satisfação simbólica de participar de uma ação coletiva, quando o dirigente se torna mais preocupado com palavras do que com atos. No caso, quando o prelado ofende-se mais com a má palavra do que com a má ação.

O segundo deles, o calor do interesse, aponta para a mudança de prioridades em uma organização complexa, quando seus fins internos se tornam mais importantes do que suas missões públicas. Para construir uma obra real, no mundo, nunca é a hora; para aumentar os recursos de sua casa, sempre é a hora.

O adjetivo notável foi empregado no primeiro parágrafo porque os sinais descritos por Segneri são os mesmos usados pela ciência social contemporânea para descrever os efeitos colaterais de qualquer processo de ação coletiva. Os benefícios simbólicos e materiais produzidos por tal ação tendem a ser distribuídos de forma mais favorável para os que lideram e comandam tais ações. A personalização da liderança e o desvio de finalidade são seus primeiros efeitos. A alma ativista de Segneri tinha pouca paciência com burocratas religiosos que apenas usam a Vinha do Senhor.


Capa de A Lógica da Ação Coletiva (1965), de Mancur Olson Jr., lição definitiva sobre os chamados incentivos seletivos apropriados pelos líderes de qualquer organização social.

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