sábado, 12 de dezembro de 2009

Sener, hom vos dis som voller

A inclusão do termo Deus em qualquer raciocínio leva aos paradoxos das infinitudes, que ainda hoje afligem tantas teorias físicas. Basta uma divisão por zero para arruinar toda um conjunto de equações; basta incluir a vontade de Deus em um argumento para tornar difícil uma conclusão moral. Deus, como lembra Segneri, é tão superior a nós em poder e em essência que sua posição de Juiz termina controversa. Condenar-nos seria prova do sumo jus, suma injúria - o exercício de um direito em excesso. Inocentar-nos, diante das culpas mais aberrantes, seria inviabilizar moralmente o mérito. O mistério do livre arbítrio, na verdade, nem se aplica nesse ponto; o problema é mais trivial: por que o infinito Deus haveria de julgar o pecador por comer um bolo a mais, por um adultério a mais?

Segneri fez aqui uma sugestão perigosa. Deus pode tudo, inclusive condenar o mais puro de nós e salvar o mais renitente pecador, diante de uma mínima penitência. Deus estaria interessado em nossos motivos e não em nossos atos. Nossa vida sexual não teria qualquer interesse moral para Deus a não ser por revelar nossos cálculos e nossas intenções, as mais íntimas. Ele estaria nos colocando, na verdade, diante do mesmo dilema que abateu Satanás: curve-se, mesmo diante do absurdo. Se, de fato, nos concedeu o livre arbítrio, Deus joga dados, ao contrário do que pensava um célebre cientista.

4 comentários:

  1. Esse talvez seja o segredo da coisa. A intenção conta mais que o ato em si. Mas, é claro, quem somos nós para mergulharmos nos pensamentos de Deus?Somos livres, mas dentro de regras. Faça o que quiser, mas tudo terá seu preço...

    ResponderExcluir
  2. Veja como é problemática a inclusão de um termo como "Deus" em qualquer raciocínio. Como definir o que é o seu pensamento?

    ResponderExcluir
  3. Pois é.. Mas aí depende de qual tipo de raciocínio você irá desenvolver. Se for calcado apenas na fé, os problemas praticamente desaparecem.
    Se passarmos para o campo do Científico, do Lógico e Racional,ficamos apenas nas conjecturas. Ou até descartamos o conceito "Deus", por não haver (aparentes) soluções cabíveis...

    ResponderExcluir
  4. Muito bem notado. De um ponto de vista estritamente lógico, um argumento com o termo "Deus" exigirá uma solução que envolva o termo "Fé". A única maneira de evitar paradoxos é introduzir essa "constante".

    ResponderExcluir