O espetáculo de fé das Missões do padre Segneri não se limitava às missas e penitências. Havia um empenho direto na correção dos costumes, a começar das rixas e vinganças endêmicas no meio rural italiano. Identificado o ofendido pela morte de um parente e, portanto, responsável pelo reinício do ciclo de mortes, Segneri iniciava seu assédio que podia incluir, caso nenhum convencimento fizesse efeito, a própria flagelação, realizada em favor do renitente. Tão efetivo era o procedimento que as pessoas que buscavam preservar seu sentimento de vingança fugiam ou se escondiam, principalmente quando mulheres. Segneri buscava todos os envolvidos onde estivesse e promovia o seu teatro dramático do arrependimento.
Outro capítulo inevitável da reforma dos costumes era o combate ao jogo de cartas (cujo fornecimento no Antigo Regime era sujeito a um regime fiscal específico) e às canções profanas. Nos eventos das Missões era rotineiro pedir pelos baralhos e queimá-los na frente de todos. Não faltava sequer um elemento de incentivo: os baralhos eram trocadas por medalhas com a efígie do Papa. Quanto às canções profanas, Segneri e seus auxiliares buscavam apenas substituí-las, distribuindo hinários e poemas sacros.
Tal ofensiva cristã despertava, naturalmente, a reação das forças infernais, que promoviam todo tipo de acidente, aproveitando-se das multidões reunidas: quedas de pedras, de pontes, enchentes, barulhos eram os estratagemas do Inimigo para perturbar as Missões. As tragédias, contudo, eram sempre evitadas por fatos maravilhosos e há mesmo uma nota de rodapé assegurando que tais fatos foram testemunhados por um sacerdote. Talvez não se acreditasse mais apenas na força da palavra escrita. Como o caso do bebê de seis ou sete meses que caiu em uma torrente, depois que os remeiros desistiram de controlar o barco e buscaram a salvação nadando. Restituído à sua mãe, para festa universal.
Raguagglio, capítulos XXI a XXXI
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
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