sábado, 25 de junho de 2011

De unde oar' vine a ta reverie?

Raramente tal consideração é explícita, mas o caráter sagrado de um vitória atlética na Antiguidade também decorria da percepção do inevitável sofrimento que o treinamento envolve. Nos tempos modernos, o esporte é visto como componente de um sistema de valores hedonistas, mas uma coisa é competir; outra, vencer e vencer sempre. Nesse ponto, há uma correspondência evidente com o sacrifício corporal exigido pela Fé.

A síndrome hoje conhecida como supertreinamento (overtraining, em inglês), decorrente de uma dedicação compulsiva ao exercício, é justamente composta por prostração, dores permanentes pelo corpo, feridas nas pernas, redução no desempenho esportivo, insônia, dores de cabeça, baixa imunidade, irritabilidade, depressão, perda do apetite, contusões frequentes, entre outros. Uma forma de flagelação, como se nota com facilidade. (http://sportsmedicine.about.com/cs/overtraining/a/aa062499a.htm).

O exercício físico necessário para triunfar nos esportes - deixando de lado, aqui, formas de estimulação química - pode se transformar em martírio. Não é raro que o atleta com tal síndrome busque ainda mais treinamento e mais sofrimento. O corpo se torna, ele mesmo, um obstáculo para obter o prêmio do Espírito - a vitória. Não existe sinal, contudo, desta associação mais direta no texto de Segneri. Parece seguir literalmente o paradigma poético dos Antigos.



O atlético "Cristo atado à Coluna", de Manuel Chili, o Caspicara (1723-1796).

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