terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

In unde de lumina cu zefiri a'nota

Apontar os rios como uma imagem da mudança nas coisas humanas é um gesto clássico, mas Segneri, em sua nota, lhe agrega um significado de ordem moral. A transitoriedade não é apenas um problema para a teoria do conhecimento, mas para a consideração dos assuntos humanos. É a mesma observação do poeta japonês Kamo no Chomei (1153-1216) em seu ensaio "Sobre minha pequena cabana". Assim ele começa:

Ainda que a corrente do rio nunca se interrompa, as águas que passam, momento a momento, nunca são as mesmas. Onde a corrente forma remansos, bolhas vêm à superfície, se desfazem e desaparecem, dando lugar a outas. Nenhuma dura muito. Nesse mundo, as pessoas e suas casas são assim, sempre em mudança [1]

Nem é claro para mim, enquanto as pessoas nascem e morrem, de onde elas vêm e para onde vão. Nem porque sendo tão efêmeras nesse mundo, têm tal cuidado em fazer suas casas agradáveis aos olhos. O dono e a casa competem em sua transitoriedade: ambos hão de perecer como a glória da manhã em seu orvalho. Por vezes, o orvalho evapora primeiro, enquanto permanecem as flores, somente para fenecer sob o sol da manhã. Por vezes, fenecem antes mesmo do orvalho e ninguém espera que este dure até a noite. [3].

Tradução da tradução de Robert Lawson, Washburn University:

http://www.washburn.edu/reference/bridge24/Hojoki.html


Lua de outono sobre o rio Tama. Ando Hiroshige (1797-1858).

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