Aproximando-se do fim do mês de fevereiro, as anotações de Segneri começam a perder em variedade. A citação implícita a uma estampa e a referência à Física do estagirita não escondem o recurso menos intenso à vida dos Santos e o uso da repetição de sinômicos como instrumento retórico. Segneri parece obcecado com a necessidade de defender a eternidade da punição infernal como a retribuição aos que se deixam seduzir pelos encantos desse mundo. Essa aridez ressalta uma indagação natural sobre a efetividade de seu texto e sobre a identidade de seu leitor.
Não seria certamente o camponês italiano, frequentador das missas espetaculares que oficiava no curso de suas missões. Não seria o público ilustrado urbano. Não há também qualquer esperança de posteridade em suas linhas. Talvez escrevesse para seus colegas predicadores, mas o Maná não funciona, ao menos até aqui, como um repositório de argumentos, nem possui a erudição necessária para impressionar jesuítas. Suas anotações, nem de longe, possuem o fogo de um sermão de Antônio Vieira.
O Maná talvez seja escrito para aqueles fiéis, funcionalmente alfabetizados, incluídos na cultura e no hábito do livro, e, assim, não queira convencer ninguém: apenas reforçar uma Fé preexistente. Considera, escreve ele sempre ao começar sua anotação. Suas repetições, sua falta de originalidade, sua ortodoxia sem maior sofisticação estariam plenamente justificadas: não quer convencer a quem não quer ser convencido.
sábado, 14 de novembro de 2009
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