Uma vez mais, é digna de nota a sensibilidade de Segneri ao problema sociológico da fé. Sua meditação trata mais diretamente da necessidade do sacrifício a Deus, mas, de forma sutil, enfatiza que tal sacrifício é de tanto maior valor quanto maior é a posição social de quem se sacrifica. Instintivamente percebe o que a sociologia inglesa dos anos 1970, em desafio à visão convencional do marxismo, afirmava sobre o real alvo da ideologia. O objeto do trabalho ideológico mais sofisticado não podem ser os oprimidos, que mal têm condições de compreender seu próprio mundo, mas as elites, no sentido amplo do termo. São as elites que dispõe do conhecimento e do poder social para a manutenção da ordem e precisam acreditar em tal ordem. Quando as elites desertam, é um claro sinal do fim - uma constatação válida seja para a religião organizada, seja para o socialismo real.
Segneri, aliás, também não se limita a um lamento crepuscular sobre o abandono da fé pelos ricos e poderosos de seu tempo. Responde ironicamente à argumentação de que o sacrifício a Deus é penoso. O hedonismo (o de então e o de agora) apenas substitui uma submissão por outra. O que é melhor, pergunta, sacrificar-se a Deus e ao próximo ou sacrificar-se ao ventre e ao dinheiro? É inevitável lembrar a linha de Paulo: que adianta ao Homem ganhar o Mundo se perder sua Alma?
domingo, 27 de junho de 2010
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