A bela figura retórica empregada por Segneri para descrever a paz alcançada pelos justos, sustentada por negativas, é uma referência clara à celebre passagem da primeira Epístola aos Coríntios (13, 4), quando Paulo define a natureza do amor (ágape):
"4.O amor é
sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se
ensoberbece,
5 não
se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se
irrita, não suspeita mal;
6 não
se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;
7 tudo
sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."
Tal encômio do amor, contudo, não foi uma invenção do apóstolo: representa uma figura literária conhecida na cultura grega. Tem um igualmente célebre antecessor, exposto nas seções 203c e ss do diálogo platônico "O Banquete". Como é sabido, o amor (eros) é assim descrito:
"E por ser
filho o Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a
condição em
que ele ficou. Primeiramente ele é sempre pobre, e
longe está
de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas
é duro, seco,
descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro,
deitando-se
ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque
tem a
natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão.
Segundo o
pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom,
e corajoso,
decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer
maquinações,
ávido de sabedoria e cheio ele recursos, a
filosofar
por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem
imortal é a
sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele
germina e
vive, quando enriquece; ora morre e de novo
ressuscita,
graças à natureza do pai; e o que consegue sempre
lhe escapa,
de modo que nem empobrece o Amor nem
enriquece, assim
como também está no meio da sabedoria e da
ignorância."